Amante de cinema e da visão mais cénica da cidade, andar de bicicleta para o Gonçalo é tão importante como respirar. Sereno na voz, perspicaz na conversa que tivemos no Parque das Nações, este é talvez o testemunho mais estoico. Ou talvez não, já que o pai Gonçalo (sábio e clarividente) leva os filhos da escola de bicicleta, com a naturalidade de quem bebe um copo de água. Uma opção inteligente na sua atitude perante a vida, para construir uma cidade evoluída longe da poluição do mundo.
Para transportar um dos filhotes leva-o na cadeirinha, mas também tem um atrelado que aguenta chuvas e birras não de um, mas de dois filhotes. O feito é tão visionário que agora os seus mais que tudo não querem ir para a escola de outra maneira. Mais uma amostra de Verão Azul? ;-) Estimulados pelos Pai (quem me dera que o meu Pai tivesse tido estoica paciência), mas também por tudo o que vão descobrindo, nos seus olhos em crescimento de alma e de mente, os seus filhos serão dois adultos da Lisboa de amanhã e com um pai destes estão já muito à frente, no que toca a saber respeitar o mundo.
1. Pedalas na cidade há quantos anos?
Desde 2008, há 5 anos.
2. Porque o decidiste fazer?
Porque quando nasceu o meu primeiro filho, precisei de pensar numa alternativa de transporte para o levar ao berçário. A bicicleta foi a melhor opção.
3. O que te faz mais feliz quando pedalas pela cidade?
Viver o presente mais intensamente participando activamente no movimento que me transporta, saber que não estou a agredir os outros com poluição do ar e sonora, ver e ouvir o que se passa à minha volta, o exercício físico, o alívio financeiro e temporal de não estar a sustentar um veículo dispendioso, ou que me ocupe com burocracias (seguros, inspecções, revisões, registos, impostos de circulação, multas, etc.)
4. Qual o maior desafio?
Começar.
5. Já tiveste algum susto?
Nunca. Embora me assuste a insustentabilidade dos comportamentos e opções que assisto diariamente dos meus pares.
6. Porque aconselharia os outros lisboetas a pedalar pela cidade?
Porque foram enganados durante anos pelos Velhos do Restelo e está na altura de reclamarem a liberdade perdida. E porque passado a natural curva de aprendizagem e adaptação, é de facto uma opção de mobilidade simples, fácil, rápida, divertida, saudável e eficaz.
8. Gostarias de pedir alguma coisa específica às entidades urbanísticas, para melhorar as tuas viagens pela cidade?
Coragem e visão. Coragem para acabar de vez com o estacionamento ilegal, as velocidades excessivas, as auto-estradas com 3 faixas no meio da cidade, limitar o trânsito automóvel nos locais históricos. Visão para implementar uma infraestrutura que incentive e facilite o uso da bicicleta, copiando os bons exemplos do resto da Europa. Não estamos em alturas de pequenas medidas tímidas e localizadas, mas sim de compromissos sérios e estruturais. Estamos a ficar cada vez mais para trás em relação aos povos modernos e evoluídos da Europa em termos de mobilidade urbana sustentável, quando podíamos ser um exemplo de sucesso.
7. Qual a historia que mais te marcou a bordo da tua bicicleta pelas ruas da cidade?
Nenhuma em particular. Mas dum modo geral a utilização da bicicleta como meio de transporte diário alterou a forma de ver e sentir a cidade e transformou-me numa pessoa mais realizada e feliz.
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