Ontem não pude estar pelas pontas dos dedos e peço desculpa a quem sentiu falta. A taxa de desemprego chegou hoje aos 15,8% e fico assim gelada. Mas o que me preocupa mesmo é o desespero das pessoas. Um ser humano próximo decidiu desistir e há momentos em perante tamanho precipício, apenas consigo ficar em silêncio. Em 2010, um amigo que gostava muito tomou a mesma decisão, no dia em que o meu Pai partiu e isso marcou-me para sempre. E por isso quando me chegam notícias de quem desiste, fico sem reação e dou-me ao luxo do silêncio.
Há desistentes que seguem em frente. Outros que por medo, se arrependem e pedem ajuda ao vizinho. E felizmente ficou no segundo caso. Não é nem será o único. Os anti-depressivos estão a crescer em Portugal e o desespero também. Mas eu, mesmo comc os meus momentos mais difíceis – que todos temos – tento sempre agarrar-me aos momentos mais simples do dia. Ontem perante tamanha notícia e com o silêncio colado aos ombros, subi a Calçada do Combro e recolhi a pureza da luz laranja de Outono que tocava a torre da Igreja.
Não acredito que isto melhor nos próximos tempos – e já sabem que vivo a vida do copo meio cheio – mas temos mesmo de nos apoiar uns aos outros e não alimentar isolamentos que só levam a tornar ainda maior o problema. É este o momento para mostrar do que somos feitos e quem escolhemos para nos rodearmos.
As pessoas revelam-se em situações críticas e tenho visto agradáveis surpresas e episódios nunca imaginados, onde o interesse se revela egoico e em prol do salve-se quem puder, mas a ‘crise’ quando nos bate à porta também serve para apercebermo-nos com verdade quem está do nosso lado. Os tempos andam duros, sim,e por isso é tempo de nos rodearmos de pessoas que nos iluminam os dias. Por isso a tanta triagem de pessoas. Uns que se revelam, outros que partem, outros que chegam do nada como verdadeiras dádivas improváveis. Identificam-se?
Como sempre me ensinou Scott Peck, ‘á vida é (por norma) difícil’. E o caminho é para percorrer. Uns dias a correr, outros dias de arrasto pendurados nos ombros de amigos, mas andemos. Andemos que a vida apenas avança e será sempre curta. Curta demais.
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