4699 é o número vergonhoso de prédios devolutos na minha querida Lisboa. Uma ofensa penosa a quem ama a cidade e quem vê crescer as tenebrosas periferias à pressão. Este cancro representa 60 mil casas vazias no coração da capital, sendo a zona histórica oriental a que apresenta a percentagem mais elevada, com destaque para as freguesias de Arroios, Santa Marta, Castelo, e São Vicente.
Na parte ocidental, Campo de Ourique, o Bairro Alto, e a Estrela. Ainda o Cais do Sodré e a gloriosa Baixa Pombalina, cada vez mais em decadência e sempre vazia ao fim-de-semana. Vulneráveis e frágeis, os edifícios são muitas vezes utilizados indevidamente, por bárbaros da cidade e com isto também o desaparecimento imperdoável do património escondido. Como testemunho triste, os lindíssimos frescos desaparecidos do número 63 da Rua das Flores.
Hoje recuperado, a obra está bem conseguida, mas os frescos só mesmo os legumes da Doubles, a mercearia fina que nasceu no rés-do-chão desse edifício. Enquanto o subúrbio cresce, acontecem tragédias sem perdão, como o caso do número 23 da Avenida da Liberdade no passado dia 6 de Julho. Já sabemos que a Câmara não tem dinheiro suficiente, e que por isso muitas das obras coercivas ficam paralisadas, mas questiono-me sobre as possíveis medidas preventivas.
Como é possível, por exemplo, não ter sido aprovado no ano passado o IMI agravado no caso da não reabilitação? Batatas quentes e religiões à parte, o castigo calvinista faz da cidade de Amesterdão um testemunho exemplar com moradores de sorrisos rasgado. Por aqui vai-se rezando, para as casas não virem abaixo.
coluna de opinião publicada a 10 de Setembro de 2008 no jornal Meia Hora