O que parece mais uma taberna pelo nome, não é nada mais do que a melhor surpresa da ‘reentré’ na cidade.
São projectos como este que me inundam de tanta convicção sobre o potencial de uma Lisboa mais alta. Bem escondida nas traseiras do Lx Factory, esta é mais uma morada criativa a juntar-se aos grandiosos cogumelos que o pólo cool já me habituou. E foi, com certeza com as raízes bem assentes na terra, que Nuno Barros abriu a nova princesa de Lisboa, a 1300 Taberna, um nome de código que eleva o bairro de Alcântara.
O vasto espaço com três oliveiras frondosas transporta-me aos meus tempos vividos em terras de Helena. O ambiente sofisticado, mas descontraído, tem o ecletismo das Coisas da Terra e a cozinha, aberta à sala de jantar, estende a entrega que se faz sentir num espaço tão respirável como este.
As ardósias espreitam por todo o lado e há palavras que se escrevem a giz. Mesas onde os individuais têm os nomes de anões da Branca de Neve, como o Dunga ou o Feliz, ou simplesmente a frase que enunciava o meu lugar ‘Love is in the air’. Palavras que fazem justiça ao dono da casa, já que, com uma equipa a trabalhar dezoito horas seguidas por amor à camisola, desde que abriram portas, é nesta mesma semana que o chefe é pai pela primeira vez. E é aqui que me retenho, já que depois do seu primeiro projecto para os lados da linha, a Taberna 2780, continuo a testemunhar o imenso amor que Nuno Barros põe em tudo o que toca.
No toque de Midas há detalhes, há movimento, e há consistência numa equipa que se mostra extraordinariamente eficiente e feliz. Com a mesma suavidade que caracteriza o chefe da casa, a sopa de tomate chega-me como uma degustação de veludo. Com um ovo perfeito a acompanhar e uma tosta de chouriço, a sopa é uma elevação ao potencial dos ingredientes mais simples. Ainda provei a Amburga de cogumelo Portobello com azeite, alho, ervas e salada, mas a minha escolha caiu sobre a Posta de bacalhau a 56C com Brás do mesmo Sr. bacalhau. Nas sobremesas atinge-se o céu, mas eu sou suspeita porque adoro o fruto seco do Tributo ao Snickers, um bolo húmido de chocolate e caramelo de colar ao céu-da-boca, caramelo salgado e gelado de manteiga de amendoim. Daqueles de pedir mais um, enquanto agradeço a nossa frente ribeirinha, que nos permite a nós, lisboetas, correr e compensar tentações irresistíveis com uma das vistas mais bonitas do mundo.
Aberto desde as nove e meia da manhã para pequenos-almoços (executivos ou não), o horário estende-se até ao final da tarde. Há uma carta especial de almoço e petiscos para ‘drinks after business’, acompanhados de uma esplanada linda. Nas opções de fim de tarde ou início de noite, há tábuas de Enchidos do Barroso com alguns frescos e outros cozinhados, croquetes de Sangueira, pastel de chouriço de abóbora, terrina de chouriço de cebola ou a Tábua de queijos com Amanteigado e Meia Cura de Ovelha Monte da Vinha, queijo da Ilha de S. Jorge e várias compotas. Os menus de degustação já têm fila de espera para serem servidos na área das mesas mais detalhadas.
Cada recanto conta uma história e, enquanto os estrangeiros da mesa de trás desenham Lisboa a giz no individual de ardósia, a minha mesa exibe uma luz especial, não apenas pelo ser humano fora de série que me acompanhou nessa noite e que tanto me eleva os dias, mas pela placa e pela luz que marca o lugar. E mesmo não estando na melhor mesa da casa, é nela que vivo a mensagem mais importante de todas: é que aqui também não há erros, tudo foi perfeito e sim, Lisboa já merecia uma tasca assim.
crónica publicada a 1 de Setembro de 2011 na Vogue
1300 Taberna
Rua Rodrigues Faria, 103, Edifício H, Lisboa
Tel. 21 364 9170
www.1300taberna.com
Seg das 9h30 às 18h30
Tera Qui das 9h30 às 24h
Sex das 9h30 às 2h
Sáb das 19h30 às 2h
