I wander around the city and its escapes, discovering the experiences that are worthwhile in a world full of noise.
As a curator of the best of Portugal and sometimes as a World traveller, with more than twenty years of articles published, in the national and international press, and also as an TV Show. author, this is my digital magazine, where I present my curated collection of exquisite life experiences.

Sancha Trindade

Com uns olhos do tamanho do mundo, a actriz Sónia Balacó (12 de Fevereiro de 1984), a viver em Londres há já três anos e agenciada pela Curtis Brown – que tem nomes como Thekla Reuten, Robert Pattinson, Dev Patel e Thomas Sangster – acabou de gravar a sua primeira longa metragem ‘I agaisnt I’. Na longa metragem de Mark Cripps, David Ellison Sónia encarna o papel de ‘Sophia’, uma mulher que poderia ser portuguesa. De passagem por Lisboa, convidámos Sancha Trindade, a conversar com a actriz, uma das nossas promessas artísticas do mundo.

Tudo está à altura da nossa vontade?
É preciso mais do que vontade é preciso acção. É preciso as pessoas quererem fazer e não estar à espera que as coisas caiam no colo. Eu não acredito que esperar leve a resultados. Só a ir atrás, e a lutar e a batalhar é que vamos conseguir ser os melhores.
A luta pela excelência?
Sempre.
Isso vem no encadeamento do que te fez ir para Londres? Um dia acordas e apetece-te ir para Londres?
Não. Eu andei a amadurecer a ideia durante vários anos. Eu sempre quis ir para Londres estudar e trabalhar.
Londres porquê?
Porque é a língua que falo melhor depois do português e para ir trabalhar como actriz o domínio da língua faz sentido. Sempre tive jeito para línguas e só via duas hipóteses, Inglaterra ou os Estados Unidos. Londres é mais perto, é na Europa e fazia todo o sentido. Da ideia ao passo demorou um tempo mas o passo aconteceu.
Escolhes a ilha rodeada de água…como mulher atlântica (nascente em Peniche). Em Londres sentes-te em casa?
Sinto a falta de mar, de sol e da comida da Mãe (risos), mas a cidade está a ferver de pessoas que fazem o melhor que podem nas suas áreas. Querem ser os melhor e nota-se muita alegria pelos sucessos dos outros.
De onde vem a tua ideia de excelência? Nasceu contigo, foi-te passado ou é um sentido de sobrevivência perante um Portugal tão enfadado e longe do copo meio cheio?
Eu sempre quis e soube bem o que queria fazer. E sempre quis fazer coisas de que orgulhe e sempre quis fazer coisas à altura da minha ideia delas próprias.
E concretiza-las bem…
Sim.
Começas como modelo, mas entras num grupo de teatro com apenas doze anos…
Sim porque insisti imenso com os meus pais. Os meus pais não estavam muito contentes com a ideia de eu fazer teatro à noite, tão nova.
Mas é uma vontade unicamente tua?
Sim eu desde que me lembro que queria ser actriz. Quando era muito nova e comecei a escrever, mas para mim escrever sempre foi um acto performativo. Porque na verdade tu quando escreves vives aquilo dentro da tua cabeça. E eu estava a extravasar para o papel o que eu queria que se materializasse de outras formas. Eu queria muito representar e insisti muito para frequentar o curso e consegui. Mas tarde aos 14 anos houve o grande ‘boom’ do Supermodel e toda a gente à minha volta dizia que eu devia concorrer. Na altura eu não achava que fizesse sentido porque era horrorosamente magríssima e não percebi muito bem. A minha mãe achou que deveria ir e consegui ir à final e comecei a trabalhar.
É importante para uma actriz ter começado como modelo, tendo em conta que começas por ser uma personagem sem voz?
Foi um caminho, não acho que seja obrigatório. Também não acho que seja um problema. Eu gostei muito da experiência.
Mas o ser modelo foi uma carruagem, e ser actriz é o sonho?
Ser actriz é o caminho. Sempre foi.
Foi por isso que tiraste um curso de artes do espectáculo na Universidade de Lisboa?
Sim eu estive um ano em jornalismo, porque sempre escrevi mas percebi rapidamente que não era o que queria fazer. E depois tirei esse curso que juntava imenso das coisas que eu queria fazer. Não só o cinema o teatro para escrever e pensar sobre isso e para isso.
E em paralelo eras modelo?
Sim eu comecei a trabalhar aos 14 anos. Aos 15 anos recebi uma mensagem da minha agência a dizer que ia haver um casting para a série ‘Jornalistas’ que ia ser uma personagem com grande destaque, como filha do Diogo Infante e fiquei com o papel. Entre dois anos eu vivi entre Lisboa e Peniche, a fazer o secundário em Peniche e a filmar em Lisboa. Os jornalistas acabaram em 2000 e ainda fiz mais séries de televisão. Aos 18 anos mudei-me sozinha para Lisboa.
Sozinha?
Sim.
E chegaste a ser até fotografada pelo Mario Testino. Como viveste essa experiência?
Tinhas 15 anos. Foi um bocado surreal. Era a miúda de Peniche e depois de o conhecer uns meses depois fui fotografada por ele. Uma das fotografias acabou por ser capa da Vogue Italiana.
E como viveste essa experiencia de ir para Lisboa? Mais fácil do que ir para Londres?
Com tanta vontade como a que tive para ir par Londres. Em Peniche não há nenhuma oferta cultural e eu sentia muita falta de ir ao cinema de ir ao teatro… vir para Lisboa era explodir intelectualmente pela oferta cultural e pelas pessoas que ia conhecendo.
E quando mudas para Londres voltas a explodir… Por mais que eu ame a minha cidade Londres é uma cidade imensamente estimulante.
Sim. E senti uma energia muito positiva de todos quererem ser a excelência.
E sentes associativismo?
Mais do que associativismo sinto que em Londres vive-se por comunidades. Em Londres o universo é mais fechado e divide-se por comunidade. E também não é tão fácil furar. São universos mais fechados… em Lisboa é mais fácil.
Isso assustou-te?
Não porque eu tenho plana confiança nas minhas capacidades.
Essa confiança ajuda-te a chegar aos objectivos…
Tenho a certeza absoluta que acreditar na qualidade do nosso trabalho e lutar para se atingir essa excelência são as causas do sucesso. Quando vais para Londres aprendes com professores do mundo inteiro como no Actor Center e aulas privadas.
Aulas de expressão cultural, de voz…?
De tudo. De sotaque (risos)… eu não quero fazer sempre de estrangeira. Há vários professores que ensinam técnicas específicas e quem nem são ensinadas em Portugal.
Antes de chegar à longa ‘I against I’, tiveste alguns trabalhos que foram amadurecendo a tua confiança…
Sim o ‘stepping stone’ e que marcou a mudança, foi uma audição aberta que me deu um papel num espectáculo de teatro que fiz em 2009, “Who will carry the word?” em que eu fazia de ‘Marie’, uma francesa de dezasseis anos que é enviada para Auschwitz com a família toda. A família é toda queimada e ela acaba por ser acolhida por um grupo de mulheres da resistência francesa que também tinham sido presas e que a tentam ajudar. Foi um trabalho duro. Esteve no The Court Yard Theater.
Gostas mais de fazer cinema ou de teatro?
Gosto mais de representar.
O teatro não te dá mais adrenalina?
Não. No teatro há um grande processo do antes. E ir para cima de um palco é para ver como o publico reage. Já não estás tanto no processo de criação. Num filme o processo de criação é constante. São energias diferentes.
A tua entrada na agência Curtis Brown dá-se depois…
Sim. Quando fiz a peça de teatro já estava mais consciente de como funcionava o mercado em Inglaterra. Como se arranjam agências. É normal quando fazes um espectáculo enviares cartas às agências para te viver ver com a intenção de seres convidada para uma dessas agências. Na altura tive agências médias que vieram ver e que me ofereceram representação. Mas na altura recebi um telefonema da Curtis Brown para uma reunião. Na altura fiquei surpresa e nem percebi porque me tinham ligado. Fui descontraída embora soubesse que eles eram gigantes. Descobri então que um director de casting viu-me no espectáculo e disse à Curtis Brown para me agenciar. Ainda hoje não sei quem é esta pessoa.
Há um anjo nesta história…?
Sim. Obvio que eu trabalhei para isso mas sim foi um acontecimento caído do céu.
É a Curtis Brown que te proporciona longa-metragem?
Sim começo a fazer audições para coisas muito boas e esta audição aparece como recomendação de um director de casting para quem eu já fiz várias audições. Fiz uma série de audições ‘screen tests’ e fiquei com o papel.
E a participação da tua personagem no jogo de computador do ‘Golden Eye’ do James Bond?
Fiz uma audição. Inicialmente fiz casting para uma personagem com que não fiquei. Mas ligaram-me umas semanas depois a dizer que tinham feito uma personagem para mim. Foi muito interessante porque o processo nada tem a ver com o processo normal de captação de um filme. Estás no centro de um círculos de câmaras vermelhas num armazém gigante com luzes baixas. Estou com vestida com um fato da cabeça aos pés e com um capacete e com a cara cheia de bolas para identificar as arestas do meu rosto. Chega até a ser bizarro. É um processo moroso.
Foi estranho ver-te em boneco?
Foi interessante. É uma imagem de mim que não é a que eu tenho. Faço de ‘Sargent Garcia’ ‘undercover ‘é uma personagem muito sexy.
A conversar contigo sente-se facilmente que és uma mulher que sabes de onde vens e para onde vais. Mas esperarias ao fim de três anos em Londres ter chegado onde chegaste?
Se eu queria… queria muito! Para fazer um trabalho de um filme para computador do James Bom eu retenho a imagem de estar sentada numa reunião com os directores da Ion, os produtores, os outros actores. Durante uns segundos não ouvi nada do que diziam e pensava que há um ano e tal tinha chegado a Londres tinha chegada com uma mala, não conhecia ninguém e estava ali naquele momento a ver acontecer. Achei inacreditável. Estava de facto a acontecer.
No ‘I agaisnt I’ fazes papel de uma estrangeira. Qual a nacionalidade dela?
Não é óbvio nem é definido. Mas para mim ela é portuguesa. Fazia sentido para a história dela. Também é a ver também com a história que eu lhe inventei (risos).
Podes revelar mais…?
Não, ainda não… (risos) mas sai este ano.
O que foi mais difícil nas filmagens?
Dentro do que eu posso revelar havia cenas muitas puxadas emocionalmente e é um desafio enorme manter a frescura e a verdade. Tinha algum receio mas acabou por correr muito bem.
E o que te deu mais gozo?
Toda a experiencia. Foi um marco do sonho. Eu fui para Londres para representar. Foi espectacular porque estava finalmente a ser protagonista de um filme e até me emociono a falar disto. Durante todo o processo de filmagens ouve acontecimentos inacreditáveis. O actor que fazia de meu marido o Mark Womack tinha acabado de fazer um filme o Tirich com o Ken Loach. E acabava por conversar com o Marck sobre o Ken Loach que é uma pessoa que eu admiro imenso e de repente não está assim tão longe.
Em 2009 gravas também os ‘Corações Partidos’.
Sim antes do ‘I agaisnt I’.
Sei que terias sido de bom grado uma personagem do padrinho pela presença de Marlon Brando, Al Pacino e Robert de Niro. Mas se pudesses escolher uma personagem na história do cinema, quem serias?
Qualquer uma das protagonistas do Persona, de Ingmar Bergman.
E vês-te a ganhar um Óscar um dia?
O objectivo é fazer cinema. Pode-lo fazê-lo em Portugal e pode-lo fazer no resto do mundo. Eu quero trabalhar com os realizadores que eu admiro.
Sobre o teu blog… com o nome ‘Narcisicamente’. Como te surgiu esse nome?
O blog surge em 2005. Eu queria escrever e queria publicar. Sempre gostei de escrever. Escrever é performativo. E o blog seria sempre sobre o que eu estava a sentir ou a pensar por isso o nome.
Um descomplexo do ego a ter humildade na escolha do nome…
Sim. Não é nenhuma ‘egotrip’. Nunca iria escrever para mim própria.
No teu blog escreves num post sobre o ‘ser cidadão’. Ser cidadã em Londres é diferente de o ser em Lisboa?
Para mim não é porque eu sou a mesma pessoa onde quer que eu esteja. Há uma atitude em Londres diferente. É um papel mais consciente, mais proactivo, mais exigente por parte da classe política.
Também esta frase: ’Portugal pode ser tudo o que quiser, é só preciso que queira’…
Portugal não sabe que pode. Portugal precisa de perceber que pode. Toda a gente pode.
Ainda do livro do Desassossego de Fernando Pessoa transcreves que ‘a minha pátria é a minha língua’.
Ao ir embora sentes ainda uma ligação mais forte. É e sempre será claríssimo que sou portuguesa.
E a decisão mas certa que tomaste na tua vida?
Ir para Londres. Sem dúvida alguma.
Já deste alguma volta de 180º?
Londres foi uma. Mas a minha vida é marcada por várias pequenas voltas. Começar a trabalhar aos 14 anos também.
O que te faz ser uma pessoa frontal?
Eu acredito na verdade. É uma das coisas mais importantes para mim. É isso que eu quero na arte e é isso que eu quero na vida.
Como é que a palavra ‘honra’ se define na tua vida?
Do que me honro mais é de ser a pessoa que sou. Não sou deslumbrada pela minha profissão, tenho a cabeça no sítio e sou apaixonada por tudo o que gosto e quero fazer. Sou muito amiga dos meus amigos e muito apaixonada pela minha família. Tive de fazer um processo de assumir – para o bem e para o mal – que queria ser actriz e que fui atrás dos meus sonhos. Honra-me ter tido a coragem de ter ido atrás.
Onde encontras os teus maiores momentos de liberdade?
A ir ver concertos sozinha. A dançar a rir, a chorar. Também ir ao cinema sozinha.
Qual o acto mais bravo da tua vida?
Houve muitos actos nobres e que me foram provando que eu sou uma mulher corajosa. Aperceber-me que tenho estofo para me aguentar neste mercado. Tive de apreender muita coisa e muitas vezes não aprendes pelo caminho mais simples. Ir à minha primeira audição para a peça do teatro foi um enorme acto de coragem. Ir à reunião da Curtis Brown também foi muito importante.
E quais os teus momentos mais ‘chivalry’?
Gosto de estar em contacto com a natureza e gosto de gozar a vida. Gosto de sentir o sol na cara e conduzir de livro aberto. Mas os momentos em que estou com os amigos e com a família são os mais importantes.