I wander around the city and its escapes, discovering the experiences that are worthwhile in a world full of noise.
As a curator of the best of Portugal and sometimes as a World traveller, with more than twenty years of articles published, in the national and international press, and also as an TV Show. author, this is my digital magazine, where I present my curated collection of exquisite life experiences.

Sancha Trindade

Rota das Sedas, Esta Lisboa que eu gosto


A minha expectativa de Lisboa nunca foi tão superada como nesta época de crise. Há quem diga que os tempos frágeis puxam pela criatividade. Eu concordo.

Num caminho que somos postos à prova enquanto identidade, parece que Lisboa, mesmo mais devagar que o resto da Europa, vai moldando a sua personalidade transversal, feminina e alternativa. Como uma mulher que vai aprendendo a construir a sua mais bonita maturidade.

A Saída de Emergência que descobri esta semana talvez seja das mais completas desde que iniciei esta viagem na Vogue.pt. O restaurante Rota das Sedas respira boa onda, frescura e muito charme, aliado a linhas minimalistas. Há uma enorme fusão à natureza que, inspirada nos veios de uma folha de Amoreira, nos mostra o caminho mais digno da História da Humanidade. O espaço divide-se em zonas distintas: uma sala de petiscos com estóicas mesas altas, duas salas interiores (uma para fumadores) e um terraço com zona lounge onde pode ler uma revista e beber um copo – daqueles de fins de tarde deliciosos. De todas as áreas, dou nota vinte ao jardim que abraça o terraço e que aos fins de semana tem uma ‘babysitter’ para tomar conta das crianças que brincam, a correr e a elevarem-se nos troncos das árvores do jardim. É impossível também não reparar na cozinha transformada em bar, com paredes de azulejos antigos conservados (a prova de que é tão fácil fazer bem mantendo a conservação dos materiais mais nobres e antigos).

O bom gosto do espaço é da autoria da fundadora do projecto, Teresa Arriaga, que dedicou alguns anos à reabilitação urbana na Câmara Municipal de Lisboa. Com a ajuda do atelier Arquitetamus e de Manuel Salgado, Teresa entrega-nos de mãos abertas um dos espaços mais frescos para gozar o Verão na capital. Instalado bem perto do Largo do Rato e com parque de estacionamento ao lado, a morada está num edifício onde outrora habitou a Real Fábrica das Sedas, nos tempos de D. João V, implementada pelo industrial francês Ricardo Godin. Foi ainda um abrigo para uma escola da Câmara Municipal de Lisboa e um atelier de design de interiores – um currículo que prova que esta é, sem dúvida, a opção perfeita para partilhar mais um jardim escondido das fachadas da cidade.

Demasiado bom para ser verdade, no papel e na prática, a experiência prova que consegue ganhar ainda mais pontos. Junte-lhe o melhor e mais simpático serviço do mundo, com a culpa do sorriso largo de João Damião. A alegria espontânea foi tanta que tive de decorar o nome do raro lisboeta feliz. Sobre a cozinha, fico ainda mais espantada quando a forma é superada pelo conteúdo. Orquestrada pelo chefe António Amorim, que veio do Hotel Altis Belém e que ficou em segundo lugar como Chefe do Ano, no ano passado, a minha escolha passou por uma salada de vieiras frescas e camarão. Ainda roubei da minha companhia uns ovos com farinheira. Tudo excelente. Nas sobremesas, cheesecake de laranja com calda caramelizada, mais uma prova da qualidade elevada, desta feita com o carinho da própria dona da casa, um selo de todos os doces da carta. A cada garfada, sente-se uma enorme entrega, uma entrega de coração que eu devolvo com o meu enorme obrigada com estas linhas.

crónica publicada a 28 de Julho de 2011 na Vogue  (Sancha Trindade visita anonimamente os espaços que descobre pelas ruas da cidade)

Rota das Sedas
Rua da Escola Politécnica, 231
Ter a Dom  das 12h30 às 24h