I wander around the city and its escapes, discovering the experiences that are worthwhile in a world full of noise.
As a curator of the best of Portugal and sometimes as a World traveller, with more than twenty years of articles published, in the national and international press, and also as an TV Show. author, this is my digital magazine, where I present my curated collection of exquisite life experiences.

Sancha Trindade

os pisos térreos do Terreiro do Paço

Posso sonhar no Terreiro do Paço?

Como filha de um alfarrabista e com uma infância entre livros e palavras lembro-me muitas vezes da limitação de espaço de Almada Negreiros que numa Invenção de um Dia Claro não teria vida suficiente para ler todos os livros de uma livraria. Esse sonho dispensaria as pessoas, essa grande riqueza que mais me move quando penso na ideia de uma cidade. A minha angústia será sempre outra… a de não ter anos de vida suficientes para ver o Terreiro do Paço como sempre o imaginei. Mesmo ainda não tendo realizado o sonho de chegar a São Petersburgo de barco defenderei para sempre a nossa praça como a mais bonita e com mais potencial da Europa.
 
Desde o mês passado que aos Domingos a Praça do Comércio passou a ser das Pessoas. A iniciativa implica o encerramento ao tráfego automóvel das laterais do Terreiro do Paço e o troço da Ribeira das Naus entre o Largo do Corpo Santo e o Campo das Cebolas. Uma exposição de fotografia, aulas de Yoga, venda de flores, aluguer de bicicletas, venda de livros, uma biblioteca itinerante, um ciclo de cinema documental sobre Lisboa ou mesmo um Quarteto de Jazz do Hot Clube passaram a dar mais vida a esta jóia da coroa lisboeta. Está melhor, mas não chega.

Numa semana em que António Costa, Manuel Salgado, José Sócrates, José Miguel Júdice, Nunes Correia e Paula Vitorino reorganizaram ideias para a reabilitação da frente ribeirinha e em que Maria José Nogueira Pinto volta a estar à frente do projecto Baixa-Chiado quero continuar a desejar muito mais da nossa cidade branca. Retirem sim as lojas dos chineses do comércio tradicional da Baixa em decadência, mas libertem os pisos térreos do Terreiro do Paço e tragam mais Martinhos da Arcada, para nós “Pessoas” nacionais e estrangeiras vivermos uma cidade dignificantemente europeia.

Enquanto espero pela devolução do Cais das Colunas ao remetente desejarei semanalmente e por estas linhas uma cidade viva e preservada que tudo tem de mão beijada. Uma cidade que afinal apenas precisa de pessoas e do seu bom senso.

coluna de opinião publicada a 11 de Setembro de 2007 no jornal Meia Hora