Como bem sabem pela tinta que tenho feito correr sobre este tema – ler aqui, aqui e aqui – os interiores do Cinema Odeón têm os dias contados. Ontem adormeci a pensar no que faria sentido para o destino deste meu tão querido cinema lisboeta e ainda em choque pelo fecho do King este fim-de-semana lembrei-me do Teatro del Sal em Florença que é assim um projecto dos mais espetaculares que por lá vi, quando passei quase um mês a viajar sozinha por Itália.
O Teatro del Sal é uma das grandes experiencias altas da cidade italiana, mesmo estando numa zona nada turística é uma morada obrigatória na visita a Florença. O Teatro antigo mantém o palco para peças e concertos e no lugar das filas de cadeiras, colocaram mesas para jantar, onde são utilizadas muitas das cadeiras do cinema. O chef Fabio Picchi é uma personagem carismática da cidade e a cozinha é exposta à sala, criando uma dinâmica de comunhão única entre espaços.
Além da grande sala e das várias salas onde se servem os almoços, lanches ou jantares, há ainda uma loja goumet.
Sei que o nosso Odeon era perfeito para um projecto deste género, por isso não me digam que os cinemas não dão dinheiro e que só servem os ruminadores do balde de pipocas. Há muitas possibilidades além do espaço comercial típico da bronquidão de quem não ousa refletir mais alto. E mesmo não havendo mercado para um cinema que substituísse o Quarteto e o King, haveria com certeza mercado para manter os interiores com um projecto destes: palco para concertos, cinema, eventos e espetáculos, restaurante e sala de chá e loja.
Entregaria de bom grado o projeto aos meus queridos José Avillez e a Catarina Portas para o porem em pé e eu arregaçaria alegremente as mãos para ajudar a não destruírem mais um marco da historia da minha cidade.