a curiosidade acompanha-me há anos, e mesmo com alguma renitência do desafio pessoal a que me proponho superar, lembro-me do estado de tranquilidade que vivi num postal do Atlântico. não espero ver a mesma família de golfinhos a um metro, que me deixou em silêncio uma tarde inteira, mas regressarei por momentos à plenitude do momento mais sagrado que possa ter vivido na terra.
o Atlântico move-me para dentro. assim, mais forte do que qualquer realidade ou desejo de uma morada onde o silêncio nos obriga ao encontro mais puro da nossa essência. intocado ao estado natural dos seres humanos, a preparação mental de um mergulho ao ventre do mundo transporta-me à intemporalidade da vida. e nos dias distantes que me confirmam na pele, a gratidão de estarmos vivos, e depois de dois anos da partida de quem me gerou vida, regresso a São Miguel com o coração nas mãos.
as imagens das ilhas transportam-me ao silêncio. na imensa certeza de que pertencemos à terra, e não o contrário, confesso a importância do arquipélago no testemunho do que possa ser o divino. talvez, por isso, o consciente ato de egoísmo, de todos os anos, gostar de o desbravar sozinha deixando-me guiar por quem a conhece como ninguém.
assim como sem muitas palavras se entrega ao mundo. o do desconhecido.
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