I wander around the city and its escapes, discovering the experiences that are worthwhile in a world full of noise.
As a curator of the best of Portugal and sometimes as a World traveller, with more than twenty years of articles published, in the national and international press, and also as an TV Show. author, this is my digital magazine, where I present my curated collection of exquisite life experiences.

Sancha Trindade

O mais bonito dos Talhos nasceu em Lisboa


Lembram-se deste post? Finalmente já posso falar do novo Talho de Lisboa, candidato a uma das moradas mais badaladas da cidade. Sei que é faccioso dizer que Lisboa tem agora o Talho mais bonito do mundo, mas eu tenho muito carinho pelo Kiko Martins e pela Maria, a sua grande companheira nas aventuras, que os levaram um dia a ‘comer o mundo‘.

Descobri o Talho por acaso, porque fica mesmo na entrada da boca do metro do Corte Inglés, a entrada que eu uso sempre que vou ao cinema para aquelas bandas. Tropecei nas luzes da nova morada e olhos abriram-se, “mas que postal tão bonito” pensei eu, e quando vi o Kiko Martins e a sua equipa de mangas arregaçadas, sorri. Adoro quando a cidade me surpreende e se tem a mão do Kiko e da Maria, só pode ser uma nova morada de excelência. Esta dupla não brinca em serviço e têm sempre sonhos do tamanho do mundo.

Tal como a simplicidades que lhes é comum, abriram-me a porta e mesmo no meio de caixotes e arrumações comprovei logo a fasquia alta. Este Talho poderia estar em Londres, ou em qualquer cidade do mundo, mas nasceu em Lisboa e eu rasgo um sorriso por darem tal morada, a um bairro que uso apenas para o escurinho do cinema e as exposições  sempre tão magnânimas da Gulbenkian.

Dias depois peguei em 3 amigas e jantei no novo Talho. Escolhi o Hamburguer da casa acompanhado de muito vinho. Ainda pedimos sobremesas, muito chá e o valor final a cada uma ficou em €28. Como perdi o recibo (o qual gosto sempre de colocar no final da galeria fotográfica) terão de confiar na minha palavra. Mas a melhor parte adorei tudo. preço qualidade acima da média.

O espaço é lindo, quer na área delicatessen, onde podemos levar para casa, quer na área do restaurante, onde destaco a parede vítrica e o candeeiro do designer Ingo Mauer, de quem matei saudades. (Tenho um algures numa caixa de uma armazém à espera de ser montado de novo e adorei por-lhe por momentos a vista em cima). O serviço é excelente  mas outra coisa não seria de esperar, já que fui tratada como uma rainha quando me auto-convidei a ‘comer o mundo’ em casa da Maria e do Kiko. E eu que nem sou muito de carne, já estou fã desta nova morada lisboeta. Para ir e voltar muitas vezes e tenho só uma nota, é que fecha ao Domingo, essa noite tão sagrada que me leva aquele bairro nos Domingos à noite para a fita da semana.

Não quero deixar de vos partilhar que esta casa tem alguns propósitos: “Tratar bem a carne, valorizá-la, respeitar a sua história. observar quem sabe, estudar, saborear o mundo, testar, reinventar, investigar, descobrir, apurar, criar.” Por isso deixo-vos as palavras do Kiko, para alcançarem, com as suas palavras, o grande carinho por trás de tudo o que o move. Porque conhecendo-os apercebemo-nos que nada é feito ao acaso, e sem a máxima entrega, assim como” quem põe tudo o que é naquilo que faz”.

A história deste espaço poderia até começar em qualquer um dos
últimos anos que passei no Brasil. Nos tradicionais churrascos onde se reunia
a família toda. Lembro-me da carne ter sido sempre parte da dieta alimentar
lá de casa, à boa maneira portuguesa. No início era como outra coisa
qualquer. Mais tarde, percebi como me sabia realmente bem.

Essa época é uma das primeiras coisas que me vem à memória, quando
penso neste projeto. No final dos anos 80, os meus pais dizem-me que vamos
voltar para Portugal. O que significa, por um lado, uma mudança cultural
significativa e, por outro, que os meus irmãos mais velhos deixam de viver
comigo. Deixo-os no Brasil, trago os dias de churrasco. O tempo da mesa, o
valor de servir quem se gosta. A tomada de consciência de que a comida
ganha um sabor eterno quando é partilhada.

O tempo passa e, em 2004, enquanto entrego sanduíches e leite aos
sem abrigo de Lisboa, percebo que a comida ajuda a criar laços, a ganhar
proximidade. Torna-se claro que este pode ser o caminho certo para
concretizar a minha vontade de estar perto dos outros. Decido estudar
cozinha mas, depois de passar por algumas experiências profissionais em Paris
e em Lisboa, percebo que preciso de mais. E em 2009, decido embarcar
numa viagem pelos quatro cantos da Terra.

Percorro o mundo para descobrir como os diferentes povos se sentam
à mesa em família. Saboreio alimentos desconhecidos, encontro pessoas
genuínas, mergulho em tradições únicas. Absorvo a diversidade alimentar,
regresso impregnado de novos sabores.

Volto a casa. Pondero a hipótese de abrir um restaurante de autor. Até
porque hoje, o percurso do cozinheiro converge para aí, como sendo a última
etapa na afirmação de um mestre de cozinha. Percebo que um projeto assim
não honra todas as escolhas que fui fazendo. E, acredito, o mundo da alta
cozinha já está bem entregue.

É então que me lembro dos churrascos e das vezes que parei no pão
com chouriço a meio da noite. Dos fins de tarde em que saboreei um prego,
regado com uma cerveja acabada de tirar, ou das vezes em que não resisti a
uma deliciosa sandes de courato depois de ir à bola. E, claro, dos poucos dias
no ano em que a minha mãe me pede para passar pela estação da renex a
buscar as alheiras que, ainda hoje, manda vir de Trás-os-Montes.

Começa a desenhar-se um caminho diferente. Impõe-se uma escolha. A
carne faz parte da minha herança gastronómica; da minha e da boca da maior
parte dos portugueses. E traz-me ótimas recordações.
O Talho Parte & Reparte nasce da vontade de querer trabalhar a
carne, de apostar numa especialização. Um espaço unicamente dedicado ao
conhecimento gastronómico da carne. Um talho com uma cozinha.

A cozinha d’ O Talho é o local onde eu, e a minha equipa,
investigamos, testamos e apuramos sabores, respeitando tradições antigas e
incorporando influências do mundo. Descobertas que podem ser servidas,
logo ali, a quem quiser viajar connosco.

O mais importante de tudo? O talho. É aí que encontram o resultado
final da nossa investigação. Para ser partilhado à mesa, claro. Em casa.

O Talho
Rua Carlos Testa,1 Lisboa
Tel. 213 154 105
Seg a Sáb das 10h às 24h
www.otalho.pt
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