A sentença está dada e não faltam duas semanas para deitar abaixo os interiores do meu querido Cinema Odeón. Pergunto-me quantas cidades do mundo se pelavam para ter uma relíquia destas para recuperar.
Em 2007 escrevi uma crónica na minha primeira coluna sobre a cidade em que defendia o renascimento no Cinema Odéon.
Situado na Rua dos Condes, em frente ao Olympia e de mão dada à Avenida da Liberdade, o ex-líbris do cinema de outrora da cidade de Lisboa, projetado por Guilherme A. Soares tem os dias contados. E hoje, sem qualquer filtro, confesso nestas linhas que tenho vergonha do meu país e da minha cidade, sempre que observo os vidros estilhaçados nas Portas de Santo Antão.
Os lisboetas mais novos estão longe de imaginar o tesouro que se vai destruir dentro daquelas paredes: Um palco de frontão Art Déco, uma magnânima plateia e dois balcões, camarotes sumptuosos, um tecto em pau do Brasil com a forma de quilha de navio, um lustre central decorado com néon, um mecanismo que permite iluminar a sala com luz natural, um pé direito invulgar e uma fachada revestida de vidros de várias cores, são mais do que suficientes para não aceitar a destruição dos interiores deste edifício.
Projetos como este revoltam-me e fazem-me pôr tudo em causa. Eu que defendo o potencial do meu país até às ultimas consequências, e até à profundeza das minhas entranhas confesso que esta aberração deixa-me profundamente triste.
Aberta uma petição que já não irá a tempo de o salvar, confesso que me dá vontade de me armadilhar e algemar-me a uma das portas. Já sabem o que acho dos centros comerciais nas nossas cidades, uma verdadeira aberração para um clima como o nosso.
Mais um centro comercial quando já não temos o Quarteto nem o King parece-me muita falta de criatividade, ou será antes ganância, falta de visão e falta de respeito pela nossa historia da cidade?