I wander around the city and its escapes, discovering the experiences that are worthwhile in a world full of noise.
As a curator of the best of Portugal and sometimes as a World traveller, with more than twenty years of articles published, in the national and international press, and also as an TV Show. author, this is my digital magazine, where I present my curated collection of exquisite life experiences.

Sancha Trindade

O Cinema Odéon faz-me ter vergonha do meu país

Em 2007 escrevi uma crónica na minha primeira coluna sobre a cidade – O Senso e a Cidade – em que defendia o renascimento no Cinema Odéon. Já se passaarm 6 anos e esta pérola da cidade continua a cair a morrer lentamente.

Situado na Rua dos Condes, em frente ao Olympia e de mão dada à Avenida da Liberdade, sobrevive hoje um ex-líbris do cinema de outrora da cidade de Lisboa, projetado por Guilherme A. Soares. E hoje, sem qualquer filtro, confesso nestas linhas que tenho vergonha do meu país e da minha cidade, sempre que observo os vidros estilhaçados nas Portas de Santo Antão.

Os lisboetas mais novos estão longe de imaginar o tesouro que se vai degradando dentro daquelas paredes: Um palco de frontão Art Déco, uma magnânima plateia e dois balcões, camarotes sumptuosos, um tecto em pau do Brasil com a forma de quilha de navio, um lustre central decorado com néon, um mecanismo que permite iluminar a sala com luz natural, um pé direito invulgar e uma fachada revestida de vidros de várias cores, são mais do que suficientes para não aceitar a degradação deste edifício, que aumenta de dia para dia.

Paris acaba de salvar uma das suas salas míticas de cinema, e hoje tropecei nesta aberração sobre o nosso Cinema Ódeon: “Atualmente tem aprovação para desenvolvimento de projeto com 3300 m2 de construção acima do solo e 3 pisos abaixo do solo para estacionamento, num total de 5025 m2. Está apenas prevista a manutenção da fachada”. Manutenção da fachada? E os interiores? Mesmo que perservem alguns dos interiores deveria ser tudo preservado, apenas parte não chega.

Escrevo com convicção que vivo num país de parolos, e sim, tenho muita vergonha de viver num país onde se continua a não dar valor ao património, que muitos países do mundo pagariam milhões para ter e preservar.

Projetos como este revoltam-me e fazem-me pôr tudo em causa. Eu que defendo o potencial do meu país até às ultimas consequências, confesso que esta aberração deixa-me profundamente triste. Pelo país que poderíamos ser e não somos. Pela mediocridade, ignorância e ganância que todos os dias destrói Portugal.

E aos meus leitores devo um pedido de desculpa por não estar a partlhar nada de muito positivo, como é costume, mas este é um tema muito sério – que revela a bronquidão cultural do nosso país – e que me dá vontade de fugir. Todos temos os nossos dias.

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