I wander around the city and its escapes, discovering the experiences that are worthwhile in a world full of noise.
As a curator of the best of Portugal and sometimes as a World traveller, with more than twenty years of articles published, in the national and international press, and also as an TV Show. author, this is my digital magazine, where I present my curated collection of exquisite life experiences.

Sancha Trindade

‘O Cinema Londres em loja de chineses’ e vamos todos morrendo lentamente

Cinema Londres 01

Acordo a tropeçar nos ‘Sofrimentos do Jovem Werther’ de Goethe. A orquestra de fundo é de  Beethoven e não tenho dúvidas na comparação. Dormi mal com esta notícia e na urgência de me manifestar antes de um diga longo e intenso, paro para refletir.

A personagem do livro, Werther,  é correspondido no amor, porém sofre com a impossibilidade de consumá-lo ao se enamorar com uma jovem já prometida a outro homem. A quem te prometes tu Lisboa? A quem ou a quê te dão a mão prometida? E enquanto Johan Wolfgang von Goethe põe um pouco de sua vida nesta obra, pois também ele vivera um amor não correspondido. Para o herói, e para mim a vida só tem um sentido: Charlotte, neste caso Lisboa. “A cada gesto, a cada dança e até mesmo em meio a bofetadas”, Werther se apaixona-se cada vez mais por Charlotte.”

Vale a pena amar assim tanto esta cidade? Por breves minutos questiono-me. Volto a tropeçar. Desta vez nas estratégias de Churchill e no seu esforço redobrado de medidas bélicas perante energias destrutivas. ‘Se cortamos na cultura lutamos para quê?’

E claro que não nos vamos iludir, como o fizemos com o Quarteto ou o King que decrépitos e por falta de clientes acabaram por fechar as portas. Em muito melhor estado estava o cinema Londres e os seus interiores… e as cadeiras, lembram-se das cadeiras que nos enterrava a todos no conforto de um filme? Sempre que fui ao Cinema Londres com a sala cheia e se não sou do tempo de frequentar o seu famoso bar, bastavam-me as saladas do falecido Magnólia antes de uma sessão de dia de semana, sempre que me movia para aqueles lados da cidade.

É com muita tristeza que vejo a cidade a sucumbir. É com muita tristeza que vão sobrevivendo os cinemas das pipocas e meus senhores, nem imaginam, quanto me apetece atirar-vos com o balde à cabeça (e perdoem a uma senhora o vernáculo da imagem).

Quantas vezes, somos tantas vezes salvos por uma sala de cinema escura? Haja salvação na Cinemateca e no futuro Cinema Ideal (obrigada de novo Midas Filmes) e nas páginas dos livros das bibliotecas mais ardentes.

A notícia conta-me também que o filme de estreia da sala a a 30 de Janeiro de 1972 foi o Morrer de Amor, do francês André Cayatte. Em Lisboa já não se morre de amor ou de paixão pela história de uma cidade. Mas vamos todos morrendo lentamente se passarmos indiferentes a uma atrocidade como esta.

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Cinema Londres 02

Morrer de Amor Andre Cayatte