I wander around the city and its escapes, discovering the experiences that are worthwhile in a world full of noise.
As a curator of the best of Portugal and sometimes as a World traveller, with more than twenty years of articles published, in the national and international press, and also as an TV Show. author, this is my digital magazine, where I present my curated collection of exquisite life experiences.

Sancha Trindade

O Chiado, o chef jugoslavo e cozinha do mundo

O Chiado, o chef jugoslavo e cozinha do mundo
A história do chef Ljubomir Stanisic é simples. E se o 100 Maneiras no Bairro Alto já dava para muitas viagens à revolução da alta gastronomia em portuguesa, a sua passagem pelo Festival Lumière, em Fevereiro de 2010 marcou o início de mais uma jornada do chef jugoslavo à nossa cozinha. Em frente ao Teatro da Trindade, num edifico de inspiração Art Déco nasceu o Bistro 100 Maneiras. E das memórias de tons escuros do antigo Bachus e com a ajuda do esplendoroso sentido estético de Ana Trancoso e muitos dos objectos da Vida Portuguesa – que se espalham mais uma vez divinamente pelos armários antigos – o espaço homenageia a boa energia do branco. As fardas originais de Aleksandar Protic revelam uma Lisboa mais atenta à extensão do belo e se as formas são surpreendentes, o conteúdos e a simpatia de quem se move e nos serve confirma a alegria da vida humana. Nas entradas partilho com convicção o original Burek jugoslavo, uma espécie de caracol salgado de espinafres, que húmido por dentro e estaladiço por fora revela-se com a frescura contrastante do queijo de veludo branco. Com a originalidade que o nome 100 Maneiras já me habituou há ainda direito a um excelente atum braseado, irresistíveis Cascas de batata com ervas, Farinheira com a broa ou Bolinhas de bacalhau. A ementa dos petiscos sugere ainda iguarias ‘para corajosos’: Moleja com cebolas negras, Caviar do Irão, Coxas de rã, cogumelos e cebola ou ‘Pica-pau’ à toureiro. Nos principais a Marmita de peixe, o Risotto de cogumelos com camarão, as Bochechas de porco preto com puré de aipo, espargos e cogumelos shitakke ou o Borrego em pistáchio garantem as influências tradicionais. O ‘Final feliz’ é servido com um Crumble de figo e gelado, Frutas gratinadas com champanhe e outras tantas sobremesas irresistíveis leves. A mesa com janela para a Rua do Alecrim eleva a minha Lisboa à extensão do mundo e usando as palavras do chef viajante, ‘aqui sinto-me em casa’, tudo ‘o resto é conversa’.
Bistro 100 Maneiras
Largo da Trindade, 9, Chiado, Lisboa
Tel. 91 030 7575
www.restaurante100maneiras.com

Pelo amor
Vagueava pela Bica quando tropecei no Le Petit Bistro, um café-restaurante que na versão francesa é um ‘bar à vin, cuisine traditionnelle & contemporaine’ como assinam os postais que fazem os cartões-de-visita da casa. E Lisboa cresce mais uma vez, pela visão de um estrangeiro que se deixou apaixonar pela luz da nossa cidade. Atrás do seu sonho, Pascal Chesnot move-se sorridente e se por momentos recordo os seus dias no bairro Alto, por trás do Les Mauvais Garçons, hoje testemunho pelas suas palavras que ‘Lisboa é a cidade do futuro’. Acrescenta ainda a certeza de ‘uma capital europeia, em tamanho mais pequeno e onde está tudo por acontecer. Ainda a importância das pessoas e a beleza do mar, por quem um dia abandonou Paris’. São palavras que me engrandecem, enquanto abraço a ternura de mais uma história de amor pela minha cidade. O espaço devia inspirar outros tantos, pela celebração de uma luz perfeita: muitas velas sobre as mesas espalham-se por um ambiente acolhedor, inundado de peças vintage. Na morada da Rua do Almada pode-se almoçar (há menus especiais a €8,5), jantar ou petiscar as escolhas do chef, que se exibem num enorme quadro de ardósia enquanto as palavras escritas homenageiam as pontas dos dedos. Tábuas de queijos, Creme de batata-doce, Gaspacho (um dos melhores de Lisboa), Salada de cuzcuz com legumes grelhados, Lasanha de rúcula e salmão, Cassoulet de pato, Polenta com legumes assados ou a especialidade de Almôndegas com pistáchios e arroz de laranja. Nas sobremesas o aclamado Petit Gateau, o Strudel de maça ou a Panacota com pesto. Na extensão dos vinhos da semana, o chá de violette ou de menta com bergamota compõe a morada alternativa que também sugere brunchs até às cinco da tarde, compostos de vários tipos de pão, queijos e enchidos, bolos, fruta, sumos, café ou chá e ovos mexidos. Os sabores inovadores são servidos por um extremo entusiasmo, num bairro onde entre esquinas escondidas, me surpreendo com mais uma descoberta apaixonante na minha cidade.
Le Petit Bistro
Rua do Almada, 29 Bica, Lisboa
Tel. 21 346 1376
www.le-petit-bistro.pt

Um chef sublime
Muita tinta tem corrido sobre a Assinatura do chef Henrique Mouro, que depois da escola Aimeé Barroyer encaminhou muitos curiosos para o Le Club, em Vila Franca de Xira. A sua nova morada perto do Largo do Rato foi uma das minhas escolhas do Lisbon Restaurant Week. E apesar dos design de interiores do restaurante terem-me surpreendido infelizmente pelo motivo menos brilhante – falo da decoração, da qualidade dos tecidos, da iluminação ou do desnível da altura dos assentos entre o sofá corrido e as suas opostas cadeiras – aceitei rapidamente todos os merecidos elogios: um serviço que me deixou estupefacta por tanta simpatia e o melhor e mais bonito Bacalhau à Gomes de Sá de sempre.
Assinatura
Rua Vale do Pereiro, 19 Rato, Lisboa, Portugal
www.assinatura.com.pt
Tel. 21 386 7696
www.assinatura.com.pt

crónica ‘Pelas ruas da cidade’ publicada na edição de Dezembro de 2010 na GQ