I wander around the city and its escapes, discovering the experiences that are worthwhile in a world full of noise.
As a curator of the best of Portugal and sometimes as a World traveller, with more than twenty years of articles published, in the national and international press, and also as an TV Show. author, this is my digital magazine, where I present my curated collection of exquisite life experiences.

Sancha Trindade

Margarida Marante 1959-2012, Na importância da memória

Ontem esta notícia deixou-me atordoada. Tenho uma boa relação com a morte desde sempre. Não acho que seja um fim, mas um espaço onde terminamos um dos estágios da evolução do que trazemos cá dentro.

A Margarida Marante foi ao lado de Maria José Nogueira Pinto, uma das mulheres que punha nas gavetas da inspiração. Bonita, com uma classe muito própria, assertiva, inteligente, ou como o público hoje escreveu “combativa, incisiva e impetuosa”, tinha uma postura sem filtro e ninguém lhe tirava a opinião. Os meus olhos pós-adolescência gostavam de a ver e sobretudo descobriam nos anos noventa, um espaço improvável a uma mulher.

Margarida Marante partiu cedo demais e tenho-me lembrado de quantos de nós não temos momentos da vida em que nos perdemos. Em que podemos deitar tudo o que construímos pela janela. Somos as nossas opções, somos também parte de quem nos rodeamos e lamento que esta mulher não tenha sido salva a tempo.

Retenho-me no potencial máximo que todos trazemos enquanto seres humanos. No que nos faz construir a escadaria que nos leva ao nosso máximo ou dos pedregulhos que muitas vezes todos nós insistimos em por no caminho, boicotando o nosso potencial.

Na sua queda, aproveito para partilhar que abomino as revistas cor de rosa por isso não sei o que andaram a dizer desta senhora. Sei que não foi bonito e por mim seriam erradicadas do mundo, ao lados das casas dos segredos e o espírito de passeio em centros comerciais que só embrutecem os povos.

Prefiro não olhar para o escrutínio. Não alimento qualquer devassa da vida alheia e independentemente da sua vida privada ser do agrado de quem lhe tinha muitas expectativas, somos donos das nossas opções. A Margarida Marante teve as dela e pela maneira como se transformou concluo que não foram as melhores.

Mas hoje em vez de me perguntar o que aconteceu a esta mulher que tanto admirei, prefiro recorda-la no seu tempo áureo. O mesmo que me mostrou que as mulheres têm a voz que quiserem, como e quando quiserem.

Lamento a sua morte, apresento condolências à família e agradeço aos que nas quedas da vida estiveram sempre lá com a lanterna. Somos fortes, mas também frágeis, por isso uma frase que repito vezes sem conta, não somos nada sem os outros.

Leia uma das suas ultimas entrevistas aqui.