I wander around the city and its escapes, discovering the experiences that are worthwhile in a world full of noise.
As a curator of the best of Portugal and sometimes as a World traveller, with more than twenty years of articles published, in the national and international press, and also as an TV Show. author, this is my digital magazine, where I present my curated collection of exquisite life experiences.

Sancha Trindade

Se pudesse pedir um presente de Natal, gostava que o Super-Homem me apanhasse na minha janela Atlântica e me levasse a sobrevoar Lisboa.

Tenho este sonho há anos e, por mais que já tenha a ousadia de conseguir saltar de um avião, esta é uma daquelas imagens que congela uma palavra que nunca uso, a ‘impossível’. Não foi por isso que me lancei ao elemento do ar no passado dia 4 de Setembro. Por mais desejável que é ser levada a sobrevoar a minha cidade de capa encarnada, voar é um acto de coragem individual e a beleza está na sua individualidade.

Assim como na vida, em que estamos com a nossa única companhia interior, é neste desporto que faço o paralelismo de tudo o que a nossa sociedade vive agora. Se cada um de nós tiver coragem, se focar e fizer o que tem de fazer no tempo certo, enfrentando os limites mais improváveis, tudo correrá pelo melhor. Também o início da nossa relação com o mundo começará sempre na relação connosco mesmos.

Fascinada por um deporto que é muito mais do que um desafio físico, a concentração e a ousadia necessárias levam-me também a querer saber da modalidade. Na procura de quem faz acontecer essa possibilidade, tenho o privilégio de acompanhar duas equipas do Projecto Atmosfera, projecto de onde saem os melhores, como a nossa Selecção Nacional de Voo de Formação VF4.

Com eles, voo até ao maior túnel de vento civil do mundo, em Bedford, que, a 30 quilómetros de Londres, permite a prática da queda livre. As equipas portuguesas chegam pela mão de Luís Candeias e Luís Mamão, dois instrutores de pára-quedismo que, com um programa Tunnel Coach, treinam no simulador, um equipamento desenhado para gerar vento a elevada velocidade semelhante à deslocação vertical de ar e que simula o pára-quedismo.

Como uma excelente ferramenta para a melhoria da performance, do nível mais avançado ao iniciado, amplifica em pouco tempo os conhecimentos, melhora a posição de voo, e aumenta a segurança em queda-livre, adquirindo auto-confiança para fazer voo de formação (VF) ou Freefly (FF).

Não apenas para ‘carapaus de corrida’, qualquer pessoa pode tentar a experiência com a ajuda de um instrutor. À motivação de todo o grupo de pessoas presentes do projecto Atmosfera, devo a minha curiosidade que, através dos seus testemunhos, fazem chegar-me as histórias aladas.

Como exemplo de determinação em levar o nome de Portugal lá fora, a dedicação faz-se por conta própria e pergunto-me como ainda nenhuma marca quis ou quer patrociná-los no próximo campeonato, a acontecer no Dubai em 2012. Não será uma causa nobre apoiar uma equipa que, numa fase como esta, nos mostra que tudo pode ser possível?

Nuno Lobo, para quem voar é um vício saudável, fugia de casa da Avó para ir para o Aeródromo de Tires. A sua alegria de veludo chega na distância de ser um dos principais responsáveis por estar a partilhar esta experiência. Fotógrafo dos restantes quatro elementos, o seu treino não será fulcral à coreografia da prova, mas nem por isso a sua presença é esquecida.

Na equipa de formação de quatro elementos, Luis Mamão sonhava voar desde criança e olha para a modalidade como uma forma confortável de existir e como uma espécie de missão em levar outros que sonham também abrir as asas. Luis Candeias desejou voar aos catorze anos, afirmando que voar em queda-livre é uma sensação ilimitada pela envolvência com o perigo controlado. ‘A sensação de controlo dum meio ambiente que, à partida, nos assusta e parece adverso, deixa-me uma sensação de super-herói feliz’.

Jorge Grade descobriu a sensação da queda livre aos trinta e cinco anos e voou directo para um curso de QLA (Queda Livre Assistida), do qual retiraria momentos de liberdade e de prazer indescritível de cada salto, sempre diferente e único. João Henriques diz-me todos os dias que o vício é caro. Desde que tem consciência de si que queria deslocar-se no ar para observar de um ponto de vista superior, imagem que vê como uma flutuação, sensação que desejará até ao fim dos dias e quem sabe até numa outra vida. Assim como a nossa, que é única e que lhe é posta como um desafio no momento em que está a ler estas linhas. Uma vida que só vale a pena ser vivida ao limite e de braços abertos, seja no ar ou em terra. Hoje e todos os dias.

crónica publicada a 21 de Dezembro de 2011 na Vogue

 

Voo para o Londres
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