I wander around the city and its escapes, discovering the experiences that are worthwhile in a world full of noise.
As a curator of the best of Portugal and sometimes as a World traveller, with more than twenty years of articles published, in the national and international press, and also as an TV Show. author, this is my digital magazine, where I present my curated collection of exquisite life experiences.

Sancha Trindade

Lisboa Story Centre, uma desilusão

Visitei o Lisboa Story Centre este sábado a convite e já sabem que sou muito frontal e sincera em tudo o que faço, ou me pronuncio. Numa primeira impressão fui extremamente bem acolhida pela equipa da recepção que mesmo sem o meu nome na lista, resolveram a questão prontamente e com rara simpatia.

A abertura desta morada, na ala nascente do Terreiro do Paço foi apresentada pela Associação Turismo de Lisboa como ‘uma plataforma de conhecimento e interatividade que, inspirada nos factos e eventos que moldaram Lisboa’ destinada a levar o visitante a descobrir o património, de forma lúdica e interativa.

Ao longo da vida foi-me exigida excelência e confesso que tinha muitas expectativas sobre o Centro. Porquê? Porque adoro de paixão a minha cidade, porque queria ter orgulho nestes espaço e porque sei que o mesmo é fundamental para entenderem Lisboa, como nós, os seus habitantes a entendemos. E claro os três milhões de euros deram pano para mangas à minha imaginação.

Os mupis do Terreiro do Paço deram-me meses de expectativa e cá fora só ouvia falar de um simulador do terramoto. Discutível focar as memórias da cidade num terramoto – quando Portugal precisa de investimento mais do que nunca – confesso que vivi estas semanas a imaginar-me numa cadeira com cinto e tudo para viver a dita (discutível) experiência agarrada a alguma adrenalina. Parece quase patético querer viver o dito simulador dessa maneira, mas já que fui uma adolescente que vibrou com os simuladores da Disney World, em Orlando, a minha expectativa estava bem elevada. Não sou apologista de grandes americanadas hollywoodescas e estava reticente sobre o porquê do simulador e o que ele traria à marca Lisboa, mas por três milhões de euros não esperava nada menos do que as minhas expectativas imaginaram.

Gostei bastante da liberdade que o audioguia nos dá, mas senti falta de um dispositivo no mesmo, que me controlasse a passagem entre salas. Perdi-me várias vezes sem perceber se o texto ainda se referia ao que estava a ver. Mesmo assim achei contornável e é normal que demore a acertar agulhas.

Gostei das emoções estoicas que se sente nas vozes que estão connosco na experiência e senti falta de uma apresentação melhor dos barcos que construíram as nossas Descobertas e respectivas explicações e legendas. Gostava que tivesse havido mais profundidade nos temas, como os detalhes do aromas da cidade Atlântica ou das especiarias, por exemplo, os quais também me diziam existir e que não senti.

Não conheci o espaço antes da obra mas achei o chão uma escolha muito infeliz e a sala onde se vive a experiência do terramoto fez-me lembrar as salas do CCB ou da Gulbenkian onde se projetam filmes de autor. Bem longe do simulador tão badalado nas semanas antes da abertura, acho infeliz focarem o momento alto da exposição no sofrimento dos habitantes de Lisboa da época. Não nos acrescenta nada de positivo e as imagens drásticas podem, deixar até, as crianças mais pequenas assustadas e escrevo isto porque sei que uma das minhas framboesas vai fugir a sete pés quando e se a levar. Mas grave mesmo foi a maneira como foi feito. Tanta publicidade no 3D e mais me pareceu feito por um amador, sem qualquer cenário à altura da minha Lisboa.

Sem dúvida que o terramoto é fulcral para se contar a história de Lisboa, mas seria importante foca-lo desta maneira? Acho que deveria ter sido exposto de maneira mais suave, até porque sangue, pedregulhos e rostos em agonia não acrescenta nada à marca Lisboa, na minha humilde opinião. E assim de repente e falando nas memórias da cidade, os pregões onde estavam eles? Não são eles também memória da minha cidade? Os escritores, marca que gostaria de ver melhor representada na experiência por exemplo. E não falo apenas de pessoa de Fernando Pessoa no Martinho da Arcada, mas todos os que fazem da nossa literatura um tesouro ainda, por explorar aos olhos do mundo, no que toca a Cesariny, Al Berto, Ruy Belo e tantos outros. Quando vivi em Amesterdão, país em que todas as casas têm biblioteca, era um tema muito discutido, como não explorávamos nós o tema da literatura, sendo tão fortes neste tema cultural e que poderia trazer tanto para a cidade, como acontece em Praga, por exemplo.

A sala seguinte com Manuel da Maia, Eugénio dos Santos e Carlos Mardel a darem-nos as boas vindas está muito mais perto da beleza cénica que eu teria dado a toda a experiência, mas as salas seguintes voltam a descer o gráfico. O último filme poderia mostrar uma Lisboa muito mais cosmopolita, bem diferente das imagens que atuais me dão impressão de uma Lisboa atrasada em relação às capitais europeias, pelas quais gosto de elevar a fasquia.

A loja no final tem mascaradas de cruzadas e bonecos do Marquês de Pombal. Há também uns sabonetes de especiarias com graça mas deixa muito a desejar em termos de livros a levar para casa, mas pode ser que não tenham tido ainda tempo para encher as prateleiras. Fica a dica.

O Lisboa Story Centre – Memórias da Cidade abre diariamente, das 10h às 20h, e a entrada a custa € 9. Vão e digam a vossa sentença. A minha foi esta: por três milhões de euros é uma enorme desilusão. E se eu preferia não ter este Lisboa Story Centre no Terreiro do Paço? Claro que não – e acrescento que estou na generalidade bem orgulhosa do que foi e ainda está a ser feito na Ala Nascente  – mas sobre mostrar a história da minha cidade aos trezentos mil visitantes esperados ‘há uma linha que separa’ a excelência de uma história, para mim mal focada e mal implementada.