Começo por me surpreender com um ‘já entraste?’ de num edifício abandonado’ no baixo da Rua de São Lázaro. Bem perto do promissor Hospital do Desterro e do Hotel 1908, que alberga o restaurante Infame, as Carpintarias de São Lázaro reabriram as suas portas este fim de semana e deixou os viajantes da cidade maravilhados. Não apenas no dia da inauguração, mas nos dias seguintes que tanto têm levado romarias ao edifício em transformação.
O edifício de fachada Art Deco que albergou até os anos noventa, um espaço de trabalho industrial de criação de móveis de madeira – e que fechou após um incêndio – reabre agora como um espaço de criação artística: o Centro de Criação e Artes Contemporâneas de Lisboa, que será no futuro breve, um lugar de produção artística, através do teatro, dança, artes visuais e imaginem, também gastronomia.
Num espaço com cerca de 1800 m2, distribuídos por 4 pisos, localizado entre duas praças emblemáticas: a Praça do Martim Moniz e a Praça do Campo Mártires da Pátria, o novo centro ainda em construção promete-se como um ponto de encontro, onde as culturas e vivências se confrontam, se adaptam e se influenciam, gerando novas dinâmicas e uma nova vibração a esta zona mais esquecida de Lisboa.
Defendo esta cidade espantosa há anos, mas comovo-me quando vejo a minha cidade a recuperar-se desta maneira, principalmente numa área desafiante que se promete como uma das próximas sensações da capital.
Levanto os olhos ao alto, para observar e agradecer a exposição estreante, que sela uma fasquia alta a esta nova morada perto do Martim Moniz. Verónica de Mello e Alda Galsterer curadoras e programadoras para as artes plásticas das Carpintarias de São Lazaro, tiveram a ousadia de convidar e conseguir trazer a dupla artística cubana Los Carpinteros, para apresentar uma instalação que estreia a presença da conceituada dupla de artistas cubanos em Portugal.
Na ousadia de quem sonha e concretiza, esta é uma oportunidade única de ver em Portugal, o trabalho da dupla de artistas mais internacional de Cuba: Marco Antonio Castillo e Dagoberto Rodriguez vivem e trabalham entre Havana e Madrid, e desenvolvem um trabalho poético, de critica e de humor impactante na cultura contemporânea. A sua genialidade traz a Lisboa a ‘Show Room’, uma instalação-escultura que tenta recriar a experiência de uma explosão. Uma explosão que anda a deslumbrar os viajantes da cidade.
A exposição que faz parte da programação de Lisboa Capital Ibero-Americana de Cultura 2017, mostra uma obra que por ser realizada com madeira tem um carácter simbólico na cultura ocidental. Segundo as curadoras, “a imagem do carpinteiro é explorada como construtor, como produtor de objectos, e como tal de Criador”. A importância do tempo cristaliza uma explosão – em suspensão no ar – de peças de madeira de vários móveis, que deixa imóveis os maravilhados observadores .
A Cidade na ponta dos dedos teve acesso a uma imagem de Mário Castilho a criar a sua instalação nos dias de montagem. Uma imagem única, de um acontecimento que tanta tinta fez correr nos últimos dias e que largo sorriso me rasga, por confirmar que ideias imaginadas e ambiciosas fazem acontecer a vibração que tanto desejei para Lisboa.
Verónica de Mello e Alda Galsterer estão ligadas às Carpintarias de São Lázaro como curadoras independentes. Na agência de arte contemporânea REDE fazem curadoria e desenvolvem projectos de arte contemporânea desde a concepção curatorial, produção, comunicação, e apoios até à abertura da inauguração.
Verónica de Mello é arquitecta e curadora. Trabalha em Lisboa e cruza os mestrados de Arquitectura, Arte e Espaço Efémero Universidad Politécnica de Catalunya e o Mestrado de Estudos Curatoriais da Faculdade de Belas Artes de Lisboa em consórcio com a Fundação Calouste Gulbenkian. Pós-graduada em Curatorial and Cultural Practices in Art and New Media’ pelo Media Centre of Art and Design de Barcelona y ZKM Karlsruhe. Fundadora da Associação Cultural Colectivo de Curadores. Funda e co-dirige o ProjectoMap – Mapa de Artistas de Portugal desde 2009. É também fundadora e Co-Directora da REDE art Agency. Em 2016 é convidada a integrar a equipa de programação das Carpintarias de São Lázaro de Lisboa. Escreve regularmente sobre arte contemporânea para várias publicações de arte.
Alda Galsterer é curadora e galerista. Vive e trabalha em Portugal, Mestre em História de Arte e Curadoria de Universidades na Alemanha e em Portugal. Em 2013, foi convidada como galerista-curadora, para participar de uma mesa redonda no Pavilhão de Portugal, no âmbito da 55a Bienal de Veneza. Fundadora da Associação Cultural Colectivo de Curadores do ProjectoMap – Mapa de Artistas de Portugal desde 2009. Directora e programadora das Carpintarias de São Lázaro. Escreve sobre arte contemporânea para vários meios e instituiçoes.