I wander around the city and its escapes, discovering the experiences that are worthwhile in a world full of noise.
As a curator of the best of Portugal and sometimes as a World traveller, with more than twenty years of articles published, in the national and international press, and also as an TV Show. author, this is my digital magazine, where I present my curated collection of exquisite life experiences.

Sancha Trindade

‘Lisboa é uma grande amante’ na Fora de Série do Económico

É bloguer e a partir de um portátil promove Lisboa. Filha de um alfarrabista lisboeta, gosta de voar através das palavras, é poética, sonhadora. E tem loucura suficiente para tirar fotografias a mergulhar na Fonte do Rossio.

artigo publicado por Joana Moura na edição de Setembro de  2012, na revista Fora de Série do Económico

Sancha Trindade mergulhou na Fonte do Rossio, o lugar eleito pela bloguer para se “fundir” com Lisboa. Costuma dizer-se que se conhece algo “como as palmas das mãos”. Sancha Trindade conhece Lisboa como as pontas dos dedos. “Lisboa na ponta dos dedos” era o nome do blogue que, desde há seis anos, a transformou numa das maiores conhecedoras da cidade de Lisboa e que recentemente se transformou naquilo a que Sancha gosta de chamar uma “plataforma”. “A cidade na ponta dos dedos” veio juntar as novidades do Porto às que já faziam parte do blogue de Lisboa e trazer uma organização e interactividade que antes não era possível.

A mudança de blogue para ‘website’ pode ser um ‘upgrade’ na ferramenta de trabalho da escritora. Mas existem outras razões: “foi também um bocadinho para me descolar do que está a acontecer com os blogues em Portugal. Há muita prostituição de produto e sou muito criteriosa nisso. E depois, quis chamar- lhe plataforma porque tem tudo a ver comigo, é o encontro dos seres humanos. Adoro estações de comboios, aeroportos, porque são locais de encontro entre as pessoas, é mais aberto aos outros, tem tudo a ver com o meu percurso pessoal”.

Licenciada em História de Arte, com um curso de fotografia, teve sempre a escrita como forma de expressar a sua imaginação. Tinha um diário com cadeado quando era criança, onde escrevia o que não contava a ninguém, que os três irmãos teimavam em abrir para gozarem com ela. Mas nada a fez parar de escrever. “A escrita está-me no sangue, é muito forte, sou talhada para as palavras”, confessa, e acrescenta: “tenho um sentido de responsabilidade e paixão pelas palavras por o meu pai ter esse talento, que depois não desenvolveu” (o pai de Sancha chegou a escrever um livro, mas não repetiu a aventura).

Poética, sonhadora, até de uma forma romântica, Sancha Trindade não gosta de escrever textos jornalísticos, apesar de ter tirado um curso profissional de jornalismo e televisão e uma pós-graduação em Televisão e Cinema. Porque a palavra como técnica oprime-a, “eu gosto é de voar”, diz. E é essa forma de escrita tão característica que fez o sucesso do seu blogue, agora plataforma, que continua a ter muitos seguidores. E também alguns inimigos: “mas se eu vivesse preocupada com o que o mundo pensa de mim estava feita ao bife”, dispara.

Afinal, quem é Sancha Trindade e o que faz? “Sou uma apaixonada por Portugal e tento vender a marca ao máximo, escrevo sobre cidades e sobre o mundo, sempre com a missão de ir buscar lá fora alguns exemplos que estimulem o que é feito cá, mas também mostrar aquilo que acontece cá dentro lá fora”, explica.

Esteve quatro anos da sua vida a viver no estrangeiro, aprendeu com o calvinismo em Amesterdão, mas também com a alegria de viver dos gregos. Voltou para Lisboa aos 31 anos e no mesmo dia criou o “Lisboa na Ponta dos Dedos”. “Cheguei a Lisboa e tinha de dizer ‘eu existo’, ‘voltei’, ‘estou aqui’, tinha uma enorme necessidade de partilhar aquela sofreguidão de viver aquilo que me tinha sido retirado durante
aqueles quatro anos”.

O que não sabia é que “aquilo” ia transformar-se no seu modo de vida. Começou por trabalhar na área comercial dos “Guias Com Vida”, onde, ao final de dois anos, sentiu que já não tinha nada para aprender nem para onde evoluir. Foi bater à porta do jornal “Meia-Hora” para propor a crónica “Lisboa, património e preservação” e dois anos depois estava a escrever no “Expresso”.

Quando pensa e fala em Lisboa, a ideia de “fusão com a cidade” está sempre lá. Quase como uma obsessão.
“Amo intensamente Lisboa”, diz, acrescentando: “Lisboa é uma cidade lindíssima, temos tudo de mão beijada, temos um rio, temos Sintra, temos um tempo óptimo, uma história, uma luz.” E só uma paixão assolapada explicaria um mergulho na Fonte do Rossio. “Era a imagem mais cénica que poderia ter com Lisboa e como adoro o cinema italiano – estou longe de parecer a Anita dos filmes do Fellini – foi para brincar um bocado com a cidade e não acharmos sempre que tudo o que é espectacular é só para os outros países”.

Cinematográfico. Lírico, até, admitimos. Mas a água não estava suja? “Confesso que nem pensei nisso, não me fez impressão nenhuma, foi muito divertido e descontraído. A alegria de fundir-me com a Fonte do Rossio era muito maior do que qualquer micose ou cobra que lá andasse por baixo”, conta divertida. Confessa-nos que estava de Havaianas para não escorregar no lodo da fonte, mas o divertimento compensou a “loucura”: “pedimos autorização à Câmara para não sermos presas e havia muitos turistas a tirar fotografias. E o que eu fiz com este mergulho é mostrar que Lisboa é tão ou mais cénica do que qualquer outra cidade do mundo”, assegura.

Sancha descreve Lisboa “como uma grande amante”. “Tenho momentos com esta cidade só meus e dela. É quase uma coisa erótica”, explica. “Porque Lisboa é uma mulher, feminina, ‘sexy’, mas tímida, que se esconde nas esquinas. Depois tem a água, imagino assim uma mulher com um vestido ondulante. É uma inspiração, uma cúmplice, é com ela que me desato a rir nas esquinas da cidade com tudo o que observo”.

“Lisboa tem tudo. Tem história, estrangeiros, praia, luz, sol, tem os milhões de amigos que enchem a casa uns do outros. Lisboa é uma cidade única para se viver”… poderia ficar horas a falar porque Sancha encontra sempre mais uma qualidade.

E o que não tem? A bloguer hesita, tem sérias dificuldadesem responder à pergunta, mas acaba por dizer que “a graça de Lisboa é mesmo essa: não ter de ir copiar nada das outras cidades do mundo”.

Já a terminar, Sancha revela que “talvez falte alguma classe autárquica com mais sentido de missão e valores”. A possibilidade de vir a ocupar um desses cargos para poder inverter a situação? “Acho que tenho muitaloucura e capacidade de trabalho para fazer coisas, para andar para a frente, mas assusta-me a máquina, porque sou uma pessoa sem filtro. Por isso, é uma coisa que não penso, não tenho ambição de ter uma carreira política”, confirma. Mas ficamos com a sensação que se o convite surgisse, não viraria costas.

Fotografia de Isabel Saldanha, vestido Halston Heritage Fashion Clinic, cluch Vectory LimeBaguera, maquilhagem M.A.C. Cosmetics