I wander around the city and its escapes, discovering the experiences that are worthwhile in a world full of noise.
As a curator of the best of Portugal and sometimes as a World traveller, with more than twenty years of articles published, in the national and international press, and also as an TV Show. author, this is my digital magazine, where I present my curated collection of exquisite life experiences.

Sancha Trindade

A construção dos dois organismos da União Europeia em pleno Cais do Sodré, a agência de Segurança Marítima e o Observatório Europeu de Droga e Toxicodependência, são um autêntico atentado a uma Lisboa abraçada ao Tejo. A construção do Hotel Altis na doca do Bom Sucesso, junto ao Padrão dos Descobrimentos e ao Centro Cultural de Belém, será mais uma barreira a obstruir um cenário que deveria ser intocável.

Para evitar mais um virar de costas da cidade ao rio, o Fórum Cidadania Lisboa e a Associação do Património e da População de Alfama debateram na passada 5ª feira, a construção do terminal de cruzeiros, em Santa Apolónia, uma obra da Administração do Porto de Lisboa. Com conclusão prevista para 2010, prevê-se a construção de um muro com seis metros de altura e cerca de 600 metros de comprimento.

Apesar de convidada, a APL não se fez representar no debate, o que me deixou bastante preocupada. A obra dispensa licenciamento camarário, por ser da responsabilidade da APL, entidade tutelada pelo Ministério das Obras Públicas, a qual tem jurisdição sobre a frente ribeirinha da cidade. O advogado José Miguel Júdice, que poderá vir a coordenar três sociedades para a reabilitação da frente Tejo, e o vereador dos espaços verdes da cidade, José de Sá Fernandes, asseguraram-nos a palavra “descanso” contra esta inacreditável parede, entre o bairro de Alfama e o Tejo. Como gata escaldada tenho medo de mais um balde de água fria, e não meus senhores, não dormirei descansada.

Concordo que Lisboa precisa de um porto e de um terminal de cruzeiros, a questão será “onde”. Nos cerca de 13 Km de Frente Tejo, não haverá um lugar menos prejudicial à vida dos que cá moram?

Enquanto cidadã activa, penso ser urgente o governo colocar o projecto em discussão pública. É que antes de ser dos turistas, Lisboa é dos lisboetas e a energia de uma cidade está também nos sorrisos de quem a habita.

Usando a boa expressão “matinal” de quem não dorme, se não formos nós a gostar da nossa cidade, quem gostará?

coluna de opinião publicada a 1 de Outubro de 2007 no jornal Meia Hora