Liquid, Em estado puro

Como criança que cresceu no Chiado, nunca me deu tanto prazer escrever uma Saída de Emergência.

É neste bairro que me lembro de ser menina e, nesse olhar deslumbrado, guardo muitas das minhas memórias sagradas da infância. Nesses dias distantes, lembro-me de passar tardes a brincar na loja de brinquedos Bénard (hoje Du Pareil-au-Même), da magia da Perfumaria da Moda (hoje Nespresso), das panquecas de chocolate da Casa de Chá Caravela (hoje Häagen Dazs). Ainda dos Armazéns do Grandella, do elevador do Ramiro Leão, dos brilhos de cores da Casa Batalha e dos lanches na Pastelaria Ferrari, com direito a batido de morango e às memoráveis bolachas de framboesa que imortalizaram uma das montras mais carismáticas da Rua Nova do Almada.

Em Agosto a cidade esvazia-se e em troca do abençoado deserto (confesso que adoro ter a cidade só para mim), Lisboa enche-se de estrangeiros ávidos pelas curvas, femininas e misteriosas, daquela que cresce devagar no canto mais delicioso da Europa. E no seu caminho lento, um imenso potencial muitas vezes boicotado pelo mau gosto e falta de mundo de quem recupera mal as zonas mais tradicionais de Lisboa. Inundada de impensáveis expositores de pastelaria, agradeço sempre que vejo uma vitrina digna dos nossos olhos como são os casos da Liquid, da Panificadora do Chiado ou da Quinoa da Rua do Alecrim, que tanto se distanciam das pavorosas vitrinas de espelho marmoreado de diferentes cores. Será culpa do fornecedor que as produz num catálogo de mau gosto, ou da Câmara Municipal que nunca conseguiu implementar um código de estética como assistimos na vila de Óbidos ou nas mais simples ilhas gregas?

Viajar abre-nos a cabeça, alonga-nos a mente, mas é também acolhendo os viajantes do mundo, que aprendemos a valorizar o que construímos nesta cidade banhada pelo Tejo. Nesses encontros pelas esquinas da cidade assisto ao ritual: na primeira vez que entrei na Liquid, a simpatia inundou de bons sentimentos o meu eixo energético e enquanto me deslumbrava com os sumos e smoothies, dois estrangeiros pedem um shot de Erva Trigo com a mesma naturalidade que um português pediria um café. Pleno de vitaminas, minerais e antioxidantes, leio com atenção os benefícios do shot de gengibre.

Lisboa é uma cidade poeta e talvez por isso não se tenha ainda apercebido da grande dimensão desta pequena loja, que recuperou bem a antiga Limonada (desde 1936) da Merendinha do Chiado, trocando o açúcar branco pelo mascavado. A recuperação do espaço não fere a cidade e há um abençoado regresso aos materiais originais. Mais do que uma chamada de atenção mundial aos nossos valores humanos e à maneira de como vivemos a nossa vida, somos chamados à preservação do nosso ser mais puro. Sendo o corpo a morada da alma em suposta evolução – e aqui faço questão de escrever ‘felizes dos que tocam essa consciência’, pois é nela que tudo começa – somos o que comemos.

Feitos na hora e 100% naturais, todos os nutrientes da Liquid têm imensos benefícios. Sem corantes, conservantes ou aromatizantes, as enzimas em estado puro dão-nos o privilégio de consumirmos bebidas vivas, em medidas exactas de vitaminas essenciais ao nosso organismo. O açúcar branco – esse veneno puro – não tem espaço neste projecto de amor à vida saudável e com destaque para os suplementos naturais e os super alimentos, ingredientes super concentrados, que na extensão da saúde fornecem uma dose extra de aminoácidos, vitaminas e minerais, de forma natural e equilibrada. Muitos previnem o envelhecimento, doenças e restauram o equilíbrio do organismo, como são os exemplos do Ginseng, da Espirulina, da Maca, do Chá Verde, da Chlorela, das Goji Berries ou do Açai. Na lista de sumos e smoothies de Verão, é urgente a rendição ao Orvalho (sumo de melão e hortelã), Arrepio (sumo de melancia e gengibre), Amazónia (smoothies de melão, açaí e gelado de iogurte) ou Flirt (smoothie de maçã, pêssego, framboesas e gelado de iogurte).

Para o regresso da praia, a Liquid já prepara um programa detox de três dias, com entregas pelas diferentes horas do dia esteja onde estiver. Para já, e enquanto o mês de Agosto nos mostra os hábitos dos estrangeiros sábios, não perca o impulso: pense em si e no dom que é preservar a vida, alimente-se com dignidade pela forma mais saudável de todas – a dos nutrientes em estado puro.

crónica publicada a 4 de Agosto de 2011 na Vogue

– Sancha Trindade visita anonimamente os espaços que descobre pelas ruas da cidade –