I wander around the city and its escapes, discovering the experiences that are worthwhile in a world full of noise.
As a curator of the best of Portugal and sometimes as a World traveller, with more than twenty years of articles published, in the national and international press, and also as an TV Show. author, this is my digital magazine, where I present my curated collection of exquisite life experiences.

Sancha Trindade

Lidja Kolovrat

Lidija Kolovrat, nascida na Bósnia e Herzegovina em 1962, chegou a Portugal há vinte anos. Provocadora portadora de diálogos dinâmicos, nas áreas em que transpira a sua criatividade, reparte-se na transversalidade de uma designer de moda, de uma realizadora e de uma artista plástica. No seguimento da sua apresentação primavera-verão 2011, na Moda Lisboa ‘on the market’ e depois mais uma ação do Príncipe Real Live, troquei algumas palavras no Ritz Four Seasons, com uma das mais emblemáticas viajantes do mundo a viver em território português.

Disseste numa entrevista que ‘devemos viver num sítio diferente daquele em que nascemos. Porque assim vamos ter mais do que uma perspetiva, outra forma de estar no mundo, outra pele”. Fala a voz da experiência?

Na vida nada é repetível. Viver noutro sítio é uma grande viagem. Estando há vinte anos em Portugal, foi e ainda é uma grande viagem. Nessa viagem há todos os fatores de assimilação dos sítios, do povo, da maneira de estar. É um processo. Quando vivemos noutro país temos de justificar ainda mais certas coisas e há um diálogo dinâmico interno. Estamos a procurar os pontos fortes e mergulhas mais fundo no teu lado mais profundo. ‘Porque estamos aqui?’ Estamos sempre a apurar para prevalecer o teu bem-estar interior. E acabas por construir o que a tua alma pede.

A tua viagem a Portugal inicia-se de carro e a entrar por Bragança, falas de magnetismo… Portugal é magnético?

Sim. Portugal tem um magnetismo essencial. Uma cliente minha (que era bioquímica) um dia disse-me que falta algum lítio. (risos). Sou muito curiosa sobre as estruturas mineralógicas dos lugares. Quando viajo gosto de sentir a águas, os minerais. Os lugares têm sempre muita influência dos elementos. Sinto que em Portugal por vezes há falta de exploração desse magnetismo, da energia dos lugares. Cai-se algumas vezes na superficialidade e perde-se atitude, um dos ingredientes mais importantes.

Lisboa não é formatada dizes, dá-te liberdade…sentes-te mais solta…

Há muito formalismo em Portugal, mas não acho que seja formatada. Há uma classe média alta muito formal, onde se sustenta uma fachada.

Uma das nossas melhores radiografias sociológicas…

Exato. Imagina que vamos preparar um projeto. É provável que tenhamos que justificar um imaginário. Não é difícil fazer alguma coisa nesta cidade. Os portugueses gostam de ser surpreendidos. Há uma procura de originalidade que observamos nos espaços novos, implementando a identidade portuguesa Contemporânea.

O sentido de oportunidade, mas o que te dá Portugal?
Espaço, uma linda atmosfera, fios de luz sobrepostos que polarizam a vontade de estar “cá fora”, dá-me uma vontade de “pintar”.

E do que sentes falta?
Acho que os portugueses podiam partilhar mais, sinto alguma falta do temperamento dos Balcãs, da extroversão e do desafio dos diferentes pontos de vista.

Dizes que na cultura não há pátrias. Como Ruy Belo dizia, ‘a minha pátria é onde me sinto bem’?
Sim é o que sinto ao viver em Portugal.

Moda Lisboa… a tua coleção primavera-verão 2011 evaporava arranha-céus, pixéis, preto, branco, cores metálicas em sedas algodões, couro ou materiais tecnológicos. Onde foste buscar esta inspiração?

Queda-livre, -O que acontece?, estás a voar? Estás a cair? Estás em algum lado, a expandir, a evoluir, esqueceste alguma coisa? E Para onde é que vais?

Arranha-céus e a sua verticalidade, as suas camadas, como é viver ou trabalhar num, só na China há nove com mais de 400 andares, é muito excitante mas sonho e vejo-me como “ The Falling Girl”, a par com o engenho de os construir e habitar atrai-me a ludicidade, e também a espiritualidade de cair de um abaixo e transformar-me durante a queda, o que acontece ao meu corpo durante esse período, à minha mente, será também mais veloz? Um espaço para voar, presente em vários campos. Nos próximos cinco anos acho que vamos mudar tanto… estamos numa nova era. Aprendi na sabedoria dos livros muito sobre o dignificado de ‘consciência’, como as coisas mudam. Tenho muita noção disso e na coleção há um sentimento poderoso na opção de ‘largar tudo’ e nessa opção um ‘bliss’ fantástico. É aí que tenho a experiência de tudo. O ‘sky scrape ’ é uma opção visual óbvia, que tem a ver com tecnologia, engenharia. O que é possível, qual o trabalho, qual a energia, qual a possibilidade de engenharia de raspar o céu? No conceito ‘sky scraper’ trabalhamos imagem, e há uma reciprocidade entre ‘fall’, ‘fly’ ou ‘jump’.

Estudaste cinema em Zagreb, depois têxtil e moda. Há um lado sempre muito cénico não apenas na forma, mas no sentimento. Há uma transversalidade entre os teus projetos e o espaço que te rodeia?
Sim. Crio com aquilo que me rodeia e transformo. Quando crias estás no céu, quando és realista estás na terra, preencho  e atualizo no meio.

Moda Lisboa no Mercado da Ribeira? Lisboa está mais viva?
Sim, foi uma iniciativa fantástica e a parte funcional tem evoluído grandemente.

O saudosismo português inspirou a tua linha“Royalty is the best policy”. Achas que vivemos muito no passado

Viver o passado ou no futuro não permite criar o presente, criei um padrão icónico e contemporâneo, constituído por figuras do poder. A aproximação a estes antigos, traz-me um novo poder, a mim como testemunha, e ajuda-me a transformar e a mediar o sentimento sobre a história, aliando um nova perspetiva social. Desta forma, através destes produtos  de design como lenços, abajures, almofadas, edredões, lençóis, etc.,  crio uma plataforma comum para o discutir e/ou para o aceitar, participo num projeto verdadeiramente transversal, que está nas casas das pessoas e que mudará com o feedback que terei delas.

Mas a linha é uma homenagem ou uma provocação?

É mais do que uma provocação. Eu gosto muito de fazer padrões, eles são um segredo da repetição da escala. Quando se faz um padrão direciona-se um sentimento. Só se pode criar com sentimento. Há que ser rápido mas tens de ir ao fundo. É na profundidade que está o maior potencial criativo. Há um sentimento por trás, podia ter usado a política mas usei a arte. O ir buscar um valor muito tradicional português, foi muito espontâneo. O objeto soluciona um passado e foi um sentimento, é uma ponte boa para uma grande mensagem.

Ainda na tua ideia de partilha… como te sentes a criar figurinos para Olga Goriz ou Clara Andermatt?
Gosto muito. Esforço-me sempre muito quando trabalho para alguém, sou rigorosa no objetivo da ideia. Sinto a essência das peças.

Na senda do sonho onde reside o teu próximo passo?
Não penso muito no futuro. (risos) Gosto de ir criar no presente, é ele que me move.

Pegando nos valores do Chivas Club, Como é que a palavra ‘honra’ se define na tua vida?
Respeitamo-nos mais quando respeitamos os outros.

E a decisão mas certa que tomaste na tua vida?
Ter tido os meus dois filhos. Ter escolhido Lisboa para viver. Ter avançado para a nova loja do príncipe Real.

Já deste alguma volta de 180º na tua vida?
Estou sempre em rotatividade. (risos)

És uma pessoal frontal?
Sou mais do género provocadora.

Onde encontras os teus maiores momentos de liberdade?
Quando crio.

E qual o ato mais bravo da tua vida?
Quando deixei o meu país, mas não é o único ato bravura na minha vida… (risos)

E quais os teus momentos mais ‘chivalry’?
No oceano. Ainda no Domingo passado dei um mergulho no mar.