I wander around the city and its escapes, discovering the experiences that are worthwhile in a world full of noise.
As a curator of the best of Portugal and sometimes as a World traveller, with more than twenty years of articles published, in the national and international press, and also as an TV Show. author, this is my digital magazine, where I present my curated collection of exquisite life experiences.

Sancha Trindade

José Cabral, O Alfaiate Lisboeta

Imprescindível ao movimento e luz das ruas da cidade, José Cabral autor do blog ‘O Alfaiate Lisboeta’ colaborador do Expresso, do Metro e da Vogue.pt, partilha com o Club Chivas alguns dos seus sonhos. Numa altura em que todos se agarram com força à beira mar, José Cabral tem a ousadia de se lançar ao mar alto vivendo apenas do seu blog, um dos mais emblemáticos bloggers portugueses.

Acreditas que és um homem importante para as ruas da cidade?
Acredito que me conheces o suficiente para saberes que, nem no dia em que possa achar tal coisa, te conseguirei responder afirmativamente a essa pergunta (risos).

Há um namoro assumido com a tua câmara Canon 5D?
Nunca pensei na minha relação com a câmara nesse sentido. Eu vejo a minha máquina fotográfica essencialmente como um instrumento para chegar às pessoas. O namoro, mais ou menos assumido, será sempre com as pessoas que a minha Canon me permite fotografar.

Manter o contacto mesmo com os sorrisos desconhecidos é urgente?
Acho que nunca fez mal a ninguém.

O que é mais importante quando alguma coisa te chama a atenção nos seres humanos que deambulam pela cidade?
Bem… o que vem depois disso poderá ser mais importante, mas o que me desperta a atenção nas pessoas é a forma como as pessoas se apresentam perante os outros. Refiro-me essencialmente à forma como se vestem e a uma certa auraque carregam consigo.

Ter a ousadia de viver apenas do blog numa altura tão frágil do pais faz de ti um sonhador ou um visionário?.
Faz de mim um tipo que quando se sente pressionado fecha os olhos, grita um impropério consigo mesmo e, quando os volta a abrir, já fez o que quer que o seu corpo lhe pedia para fazer. No passado dia quinze de Junho, quando abri os olhos já tinha redigido um e-mail aos Recursos Humanos do Banco Espírito Santo a apresentar a minha demissão. Isso não signifique que não tenha sentido qualquer tipo de angústia nos dias e semanas seguintes. O que estou a tentar dizer é que experimento uma grande dificuldade em me alhear do que sinto. E quando assumi perante mim mesmo, que a minha carreira profissional não me realizava e que havia um projecto no qual eu acreditava realmente, achei que não havia lugar a um plano B.

Alguma vez imaginaste ter tanto sucesso?
Vou-te responder da forma mais sincera que me é possível. Eu não tenho essa percepção. Existe um trajecto recente que me é bastante querido e pelo qual sinto um enorme orgulho. É claro que se fosse o único a pensar isso não estaríamos a ter esta conversa. E não estou sequer a querer convencer-te que o feedback dos outros não é algo importante para mim. É muito importante. Mas eu tento concentrar-me (apesar de nem sempre ser fácil) no valor das coisas em si mesmas. Tento concentrar-me no valor que elas representam para mim. Eu sou um ser gregário e a definição do meu “eu” não é feita sem a tua validação ou de todos os que nos vão ler mas eu tenho tentado focar-me em ideais simples como “gosto, realiza-me, é tudo o que importa”.

Até onde vão os teus sonhos?
A muitos sítios. Nos últimos tempos têm-me levado a sítios onde, tempos depois, os desenvolvimentos da vida terrena me acabaram por levar lá realmente. E isso é óptimo porque sentes que não foi a sorte ou o acaso. Sentes que é tudo consequência daquilo que tão intransigentemente te convenceste que irias conseguir. Idealizares coisas que até aos teus amigos tens prurido em contar porque te vão dizer (como bons amigos que são) “modera as expectativas… as coisas podem ser mais complicadas do que pensas, etc, etc” e depois, um dia, elas ganham vida. Resumindo, os sonhos são um óptimo princípio. Tanto melhor se pudermos vê-los concretizados mais tarde.

Teres o blog traduzido em quatro línguas é obra mas em chinês é um acto de ousadia…
Há bocado perguntaste-me pela ousadia que representava ter deixado o meu trabalho e, de alguma forma, dedicar-me ao Alfaiate Lisboeta e a tudo o que lhe diz respeito a 100%. Há coisas que eu às vezes sinto necessidade de fazer. Ter um blogue em chinês pode soar ousado ou excêntrico. Mas acho que é muito mais ousado trabalhar-se numa dependência bancária numa pacata localidade e achar-se que se pode fazer uma espécie de crónica urbana baseada numa certa visão estética de Lisboa e de outras metrópoles. E eu, nessa altura, senti necessidade de fazer isso. Não teve que ver com nenhuma visão estratégica sobre a evolução das plataformas online ou uma qualquer percepção sobre o que faltava ou deixava de faltar na blogosfera portuguesa. Apeteceu-me. Apeteceu-me muito. Tão simples quanto isso.

Como te sentes enquanto promotor de vidas que habitam as cidades?
É isso que eu sou? (risos). Sinto-me bem a falar das pessoas que fotografo e do que elas, num determinado momento, parecem significar para mim. Se isso as fizer sentir bem tanto melhor.

Renasces cada vez que conheces e te surpreendes com alguém que encontraste na rua?
Às vezes.

Um ser humano adapta-se a tudo na vida?
Para te ser completamente sincero acho que a vida não tem sido muito exigente comigo. Mas vai ser. E nesse dia talvez te consiga responder a essa pergunta com propriedade.

Pelo estilo se define a pessoa?
Não me parece. Mas não deixa de ser um instrumento como outro qualquer para podermos tentar fazê-lo

Quais os três valores mais importantes que achas fundamentais na sociedade de hoje?
Os meus valores fundamentais não são necessariamente os valores que vejo, mais comummente, reproduzidos à minha volta

Relativamente à palavra amizade, sentes-te um privilegiado?
Acho que existem pessoas por quem tenho uma estima incomensurável que gostam muito de mim. Sabe bem pensar nisso.

O que representa para ti a família?
Uma ideia sobreposta à da amizade mas provida de uma validação mais irracional e cega. Costumo dizer, em jeito de brincadeira, que por mais parva que a minha irmã se pudesse tornar um dia iria sempre amá-la de uma forma inexorável.

Qual o teu maior segredo de felicidade?
Estar feliz com aquilo que faço foi um grande passo nesse caminho. A forma como me sinto na minha pele e naquilo que faço torna-me uma pessoa muito mais aprazível no contacto com os outros. E a forma como nos relacionamos com os outros é, muito provavelmente, a chave da nossa felicidade.

Qual o teu maior sonho ainda por concretizar?
Pergunta complicada. Para simplificar vou cingir-me à esfera profissional. Houve uma campanha que concebi com grande energia e carinho que gostava muito de ver concretizada. No dia que isso acontecer talvez possa sentir de alguma forma, como tu sugerias há pouco, que deixo um legado importante para as ruas da cidade.

Qual o maior património de um ser humano?
Os que nos rodeiam.

Estar disponível para os outros é importante?
Muito. Mas tenho muitas dúvidas sobre ter sido sempre bem sucedido nessa matéria.

Como é que vives a honra na tua vida?
Tento fazer coincidir os meus actos com as minhas palavras.

A frontalidade é importante?
Essa foi a pergunta mais fácil. Só a muito custo consigo agir de outra forma.

O que é que de mais nobre já fizeste pela vida de alguém?
Não sei se já fiz algo de tremendamente nobre por alguém. Gosto de pensar que sim mas não estou seguro disso. Em todo o caso pôr-me para aqui com gabarolices não faz muito o meu género (risos)

Quando e onde é que te sentes um ser humano mais livre?
De uma forma geral o passo profissional que dei ao abraçar os meus projectos proveu-me de uma sensação de liberdade que não sentia faz tempo. Em todo o caso há momentos que desfruto dessa sensação duma forma mais intensa. Escrever e viajar são, seguramente, dois desses momentos.

E quais os seus momentos mais ‘chivalry’?
Não sei quais são os meus momentos mais chivalry. O que te posso dizer é que os valores da Chivas são tremendamente inspiradores. E a Chivas é uma marca que, na sua comunicação e forma de estar no mercado, nos faz aspirar a viver momentos desses.