Conheci uma das almas do Harlem, que na senda dos que amam esta cidade, apostam tudo, com o divertimento firme das loucuras mais saudáveis de se estar bem vivo. Carlos Lopes poderia correr maratonas, mas a sua corrida que nasceu um dia em Cabo Verde, não o cansa. O feito estoico de abrir portas em tempos incertos, tem como grande ingrediente, uma enorme paixão e a confiança de estar a preencher uma lacuna em Lisboa: um bar restaurante, onde longe da confusão da rua cor-de-rosa do Cais do Sodré, o soul e o jazz são homenageados na companhia de petiscos e jantares marcantes.
Tal como os amantes do Soul – passando pelo Jazz, Blues, Funk, R&B e Hip Hop – partilham o gosto pelas músicas suaves à pele da alma, o Harlem nasce em Lisboa, para estender essa troca cúmplice a momentos bens vividos à volta de uma mesa. Num ambiente que Carlos defende, e bem, como cool, o convite para um copo de fim de tarde, um jantar, uma partilha de petiscos ou uma petiscada tardia, depois de um espetáculo algures na cidade, merecem a viagem ao enigmático Largo Stefens.
As caixas de madeira, onde Duke Ellington ou Billie Holiday improvisavam livremente sob ritmos Jazz e Blues, inspiraram as paredes de caixas do Harlem e que fazem parte do projeto de interiores, do tão conceituado Paulo Lobo.
O Harlem é um lugar simples e por isso despretensioso, deixando espaço para o mais importante: a música, o ambiente descontraído, um excelente serviço e uma ementa invulgar. A influência afro-americana da soul food é fortemente polvilhada de sabores portugueses. Uma mestria da autoria da dupla de chefs Hugo Brito (DeliDelux, 100 Maneiras, Quiosques do Refresco e Olivier Avenida) e Pedro Duarte (LA Caffe, Spot São Luís e 100 Maneiras). “A genuinidade dos sabores, mantendo as formas e paladares originais dos ingredientes, originam pratos inovadores em contínua criação, adaptando-se à altura do ano e, principalmente, ao gosto das opiniões que esperam dos clientes”.
Os cocktails que tiveram consultoria do famoso Dave Palethorpe fazem maravilhas de final de tarde e os petiscos que provei confirmaram-me a vontade do regresso. Destaco as viciantes Chips de mandioca com pimenta de Caena, os Croquetes de batata, as clássicas Asas de frango assadas e os Slides (2 hambúrgueres de 60 gramas em pão caseiro – todo o pão do Harlem é feito dentro de portas – com pickle de cebola vermelha e queijo da Ilha de São Miguel. Nas sobremesas, experimentei o Cheesecake de abóbora com creme fraiche temperado e o explosivo Red Velvet Cake ao jeito da casa.
Também da casa são todas as vozes familiares: “Marvin Gaye a Barry White, o Funk de James Brown, o carisma de Aretha Franklin, o Jazz genial de Miles Davis ou John Coltrane, a Soul de consciência social de Curtis Mayfield ou Gil Scott-Heron, a boogie disco dos Earth, Wind & Fire, Kool & the Gang, o charme dos Temptations, sem esquecer artistas mais contemporâneos como R. Kelly, Jill Scott, John Legend, Maxwell, Common, Jay-Z, Kanye West, mas também as grandes Joss Stone e Amy Winehouse. Vozes intemporais, vozes que nunca morrem e que no Harlem da nossa cidade ganham vida. Seja num fim-de-tarde, seja numa noite dentro, desta Lisboa que mesmo em tempos delicados não deixa de ser espantosa.
Harlem
Largo dos Stephens, 6 Lisboa
Tel. 213 467 097
Seg a Sáb das 18h Às 02h
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