I wander around the city and its escapes, discovering the experiences that are worthwhile in a world full of noise.
As a curator of the best of Portugal and sometimes as a World traveller, with more than twenty years of articles published, in the national and international press, and also as an TV Show. author, this is my digital magazine, where I present my curated collection of exquisite life experiences.

Sancha Trindade

Há uma linha que separa o rés-do-chão do Primeiro Andar. E essa linha está em frente ao Coliseu, a iluminar Lisboa.

O Primeiro Andar nasceu da vontade de um grupo de amigos de colocar as mãos à obra para renovar um primeiro andar no Ateneu Comercial de Lisboa. A missão surgiu para “dar a conhecer artistas e pôr pessoas, de diferentes áreas, a comunicar através de eventos gratuitos e gastronomia criativa, num ambiente familiar”.

Assim, nasce um dos restaurantes escondidos de Lisboa, que consegue fundir “energia com cultura e onde se partilham experiências sensoriais entre pessoas que querem dar e receber”. A frase é comprovada pela simpatia da equipa que integra um dos ambientes mais descontraídos em Lisboa.

Não é fácil dar com a porta, mas ao cimo da rua, mesmo em frente ao Politeama, há, no lado esquerdo, uma entrada a descobrir. Peculiar – parece até que promete pouco -, o convite passa por atravessar um gimnodesportivo que pode intimidar. Mas o percurso vale bem a pena.

Na entrada, um balcão coberto de jornais e um rodopio de braços entre a área de serviço e da cozinha que exala uma vibração familiar: os movimentos dos vultos percorrem as alas do andar que se divide por três salas, com ambientes e luzes diferentes. No elogio ao vintage e às tascas de Lisboa, os adjetivos cénico, exclusivo, pessoal e intransmissível fundem-se com peças de outro tempo.

Há um sentimento de reaproveitamento, mas no que toca à cozinha, a palavra é inovação. À laia dos petiscos que lembram o sabor caseiro da gastronomia “da Avó”, tudo estava delicioso (salvo talvez o Pica-Pau – pedia melhor matéria prima). Mas há sempre uma salvação. Nas sobremesas, tem graça reviver os tempos de miúda com a reconstrução de um salame que, em vez de chocolate, chega com sabor a caramelo. O ex-libris da casa é o Dito Cujo, uma espécie de bolacha cremosa que se prende ao palato como veludo granulado e que nos tenta a pedir uma segunda volta.

Um “elo de ligação entre todas as vertentes culturais a preços acessíveis e num ambiente descontraído, um compromisso descomprometido”, o desafio do Primeiro Andar está lançado. Esta é “a nossa sala”, mais uma das salas da cidade onde se pode viver e conviver na alegria de amigos. Novos ou os de sempre.

crónica Saída de Emergência publicada a 11 de Outubro na Vogue online

Primeiro Andar
Ateneu Comercial de Lisboa, Lisboa
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