Sensibilidade, sonho, magia construção, rigor, romance e muita sensualidade é tudo o que sinto quando observo o caminho percorrido por um dos nomes mais luminosos da moda portuguesa. Pela consistência, pelo brio e toque de Midas, pelo sucesso criativo ou financeiro, mas mais do que tudo isso, pela humildade dos movimentos.
Manuel chega ao jardim do Príncipe Real antes da hora marcada. Com a mesma suavidade de um felino selvagem ao Sol, ao Universo agradece a bonita tarde de Inverno em Lisboa. Ninguém chega a um galho tão alto só pela criatividade. E Manuel Alves é daqueles génios onde a transversalidade impera. Partilha-me a agenda futura de visita a fábricas no norte com a mesma alegria que os raios iluminam a sua forma tão livre e entusiasta de estar na vida.
Tinha eu apenas nove anos quando Manuel Alves dava os seus primeiros passos na moda. O sonho de ser, na minha opinião, um dos nomes de excelência, tem sido medido por uma fita amarela sem fim. A inteligência medida ao centímetro de saber aceitar apenas o que move o coração e a entrega que não se mede em número de horas, sempre aliada à sofisticação original tão intrínseca à sua assinatura, resultam de um homem que fez tudo abraçado à palavra acreditar.
Nunca conformado com as conquistas, a estrada jamais terá fim enquanto o coração pulsar. Uma estrada que alimentada por esperança, se vai construindo com dias cosidos a linhas de luz e que formam um dos mais estrondosos e sofisticados holofotes das nossas passerelles.
Inspirado na beleza do silêncio, mas também na música com que a cidade se move todos os dias, é na orquestra de opostos que Manuel Alves encontra o seu equilíbrio. Assim como quem assiste com humildade, à intocabilidade do amanhecer da cidade Atlântica, com trezentos e sessenta graus da Lisboa mais nobre de todas.
A mesma beleza que me emociona e que confirmo sempre que alcanço o andar ondulante das suas peças, como quem veste as divas da cidade de tecidos que se movem como o Tejo.
crónica publicada a 11 de Janeiro de 2012 na Vogue
© fotografias de José Cabral, O Alfaiate Lisboeta
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