I wander around the city and its escapes, discovering the experiences that are worthwhile in a world full of noise.
As a curator of the best of Portugal and sometimes as a World traveller, with more than twenty years of articles published, in the national and international press, and also as an TV Show. author, this is my digital magazine, where I present my curated collection of exquisite life experiences.

Sancha Trindade

Quando entrei fiquei imediatamente abraçada às pinturas das paredes.

Cresci no meio dos livros e das histórias mais inteiras. E na visão do cenário imaginado, o homem que gerou a minha vida e que até ao fim dos meus dias imagino, nas palavras de Herberto Helder, contra um cenário de uma biblioteca a arder por trás.

A magia das pessoas importantes das nossas vidas permanecem nos homens que deixam obra e que nos formam como seres humanos maiores. Daí, o reconhecimento do nome de Portugal no mundo e o fascínio por bibliotecas, hoje seladas com a partida do homem das mãos de veludo. Tal como António Champalimaud, é a lembrança de uma obra que viria a inspirar o nome próprio que transporto todos os dias no cartão da cidadã, a cidadã que tanto ama esta cidade. Os livros contam histórias e, mesmo aqueles que ficaram por abrir nas nossas vidas, é neles que depositamos o que deliciosamente está ainda por acontecer.

Hoje, e na sequência da última crónica (permitam-me a confissão), quando imaginei a Saída de Emergência, não vos queria falar apenas de paredes bonitas e opções frescas das esquinas da cidade. O tempo em que vivemos é de transformação interior, contrariando o sentido de uma humanidade que se perde. E hoje sei que a vida será sempre curta demais para não nos entregarmos à evolução da alma, que habita a terra apenas para crescer as suas qualidades humanas. Paro para ouvir o ‘Ave Mundi’ e o ‘Voltar’ de Rodrigo Leão e, naquilo que não posso mudar no mundo, agarro-me à beleza do que é estar à altura de tudo aquilo que nos acontece.

Perante qualquer evolução de um ancestral comum, a origem das espécies e a expressão da emoção em homens e animais que elevaram o nome de Darwin na história, é óbvio observarmos o valor da vida. Darwin dizia que os jovens e os velhos de raças muito diferentes, tanto no Homem como nos animais, expressam o mesmo estado de espírito com os mesmos movimentos. Soberbamente ligados à Mãe Natureza que a vida de hoje tanto tem abdicado na sua forma mais divina, somos chamados à razão. Viajarmos para dentro de nós é uma viagem urgente. Uma viagem que tem o passaporte mais importante de todos: a nossa verdade e a clareza interna num mundo que nos criou apenas para o mais puro nossa da nossa essência.

Na importância das cidades, observo à volta pessoas com páginas de histórias em construção. Num espaço projectado pelo departamento de arquitectura da Lanidor e gerido em paralelo ao dos restaurantes LA Caffé, a mestria do chefe António Runa faz acontecer pratos bonitos, enquanto borboletas voam por cima dos nossos ombros e cardumes de peixes navegam em candeeiros, num único sentido. A equipa move-se eficiente e extraordinariamente simpática. E sei que podia usar todas estas linhas para vos falar da carta que me permitiu um excepcionalmente bem conseguido creme de cenoura, laranja e gengibre e um lombo de mero preto sobre grelos salteados com cebola roxa e tomate cereja. Mas enquanto o tempo urge e me perco em conversas com a melhor companhia do mundo, olho pela janela e sorrio. Sorrio sempre que vejo um barco a passar no Tejo.

crónica publicada a 21 de Julho de 2011 na Vogue (Sancha Trindade visita anonimamente os espaços que descobre pelas ruas da cidade)

Darwin’s Café
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Ter a Dom das 12h30 às 23h30
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