I wander around the city and its escapes, discovering the experiences that are worthwhile in a world full of noise.
As a curator of the best of Portugal and sometimes as a World traveller, with more than twenty years of articles published, in the national and international press, and also as an TV Show. author, this is my digital magazine, where I present my curated collection of exquisite life experiences.

Sancha Trindade

Charcutaria, a importância dos clássicos

Charcutaria (26)

A Charcutaria não é uma morada nova na cidade de Lisboa, mas é um clássico da Rua do Alecrim que merece atenção. Pelo menos a minha, já que da mesma rua guardo tanta boa memória, pela livraria alfarrabista do meu Pai. Orquestrado há muitos anos pela subtileza aveludada de Manuel Martins, sinto-me recebida como em casa de um amigo de família, para quem os códigos de honra e de saber receber, com a melhor prata da casa ainda contam.

Assim de repente lembro-me da minha Avó, que com entusiasmo partilhava os legumes que tinha encontrado no mercado e o super poder das suas receitas. É com essa mesma ternura de entrega e partilha que fui acolhida na Charcutaria. Mal sabia eu o que me esperava e qual mesa orquestrada por François Vatel para Luis XVI? Não havia estátuas de gelo, mas o banquete estava a postos e eu confesso que tive receio de não estar à altura, para tanta boa sensação num único jantar.

Mas voltemos atrás. A Charcutaria foi fundada em 1947 em Campo de Ourique e tinha a fama de ser uma das principais mercearias finas da cidade. Aqui se encontravam os melhores enchidos e queijos, vinhos e frutos secos ou os primeiros iogurtes da cidade. Anos mais tarde, Manuel Martins, filho do fundador, decide dedicar a sua vida à gastronomia portuguesa, passando a servir petiscos tradicionais, que pela qualidade dos ingredientes e intensidade na entrega com que os cozinha viriam a ser famosos.

O alecrim da rua não denuncia a  terceira sala do restaurante com uma janela deslumbrante para a Rua das Flores, assim como quem se abre às vielas escondidas e às cores de Lisboa, num final de tarde solarengo. A mesa à beira e virada para a janela é talvez das melhores mesas de Lisboa. Pela simplicidade, pelos aromas Atlânticos que chegam do rio, e pela vista singular que em tons difusos e quentes me vai revelando a cada minuto postais diferentes da luz de Lisboa.

No regresso ao banquete, as entradas renderam-me logo: Empadinhas de galinha e Pataniscas de bacalhau. Só estes dois clássicos já valem a viagem. Segue-se um Tomate com ovo, um Foie Gras fresquíssimo e umas Migas de batata e ovo que mais pareciam veludo. Os peixes, fresquíssimos, chegaram em forma de Ventresca de Atum e Peixe Galo grelhado acompanhado com tomate e batata. Logo de seguida uma Vitela Barrosã com Migas de batata e couve que não terminei porque não sou muito de carne. Finalizei com uma Bolacha de Noz com Doce de Ovos que é assim uma coisa de outro mundo. Divinal e obrigatória nas sobremesas melhores da cidade.

O jantar foi acompanhado com Carvalhas Branco (2010) e Carvalhas Tinto (2010), da Real Companhia Velha e um delicioso Late Harvest (2012) do Monte da Ravasqueira, que me deixou ainda mais bem disposta, pela experiência, mas acima de tudo pelo grande brinde aos clássicos da cidade. Assim como quem agradece as moradas que ainda nos conseguem transportar aos sabores e valores de antigamente.

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Charcutaria
Rua do Alecrim, 47 Lisboa
Todos os dias das 12h às 22h
www.charcutaria.com
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