I wander around the city and its escapes, discovering the experiences that are worthwhile in a world full of noise.
As a curator of the best of Portugal and sometimes as a World traveller, with more than twenty years of articles published, in the national and international press, and also as an TV Show. author, this is my digital magazine, where I present my curated collection of exquisite life experiences.

Sancha Trindade

Can the Can, Na elevação das conservas

Sabem há quanto tempo sonho ver acontecer o Terreiro Paço? Nem tudo é perfeito, mas viver uma das mais bonitas praças do mundo tanto tempo celada aos lisboetas é uma grande conquista.

Não estava o melhor tempo de verão, mas nem por isso as novas esplanadas da ala nascente da Praça do Comércio deixavam de ter viajantes sentados a apreciar tudo aquilo de o mês de julho inspira. Vontade de sair, de gozar como nunca a cidade num dos meses em que as festas fazem Lisboa ainda mais luminosa.

Das opções da praça foi flagrante a escolha que elegi para vos partilhar. Dos cinco restaurantes e esplanadas o Can the Can inundou-me a vista, não apenas por valorizar um produto bem português como o das conservas, mas pela estética interior que nos dá a sensação de que este restaurante poderia estar em qualquer cidade da Europa. Esta será sempre a minha melhor Lisboa, a da fasquia alta. Aquela que nos emociona por valorizar o que é nosso e aquela onde nos apetece ficar horas a fio, na companhia de quem escolhemos e gostamos de investir no nosso tempo mais puro.

Não revelarei em detalhes todas as novas moradas, porque algumas são candidatas a estas linhas. Da esquerda para a direita, Quiosque da Ginginha do Carmo, Museu da Cerveja, Ministerium, Nosolo Itália, Can the Can, Populi e a discoteca Lust Lisbon. E se o quiosque da Ginja do Carmo é um grande candidato, qualquer coisa com o nome Itália puxou para baixo por momentos a emoção da visita. Pertencente a uma cadeia com forte presença no Algarve, acho de um enorme absurdo – por mais dinheiro que traga – permitir um nome na nossa praça maior um estabelecimento que seja contra producente à marca Portugal. A qualidade das pizzas parece boa e as tostas mistas chegam num cesto todo bonito e concordo que o sucesso pagas as contas, mas é mais forte do que eu, Itália no Terreiro do Paço não, obrigada.

Na Saída de Emergência desta semana retenho-me no enorme lustre feito de três mil latas de conserva, pendurado no teto do Can the Can. Café e restaurante de petiscos onde as conservas tradicionais são elevadas a refeições leves e sofisticadas pelas mãos do chef grego Akis Konstantinidis, as latas espalham-se também pelas mesas e penas prateleiras que se vão enchendo com objetos vintage e produtos portugueses. Azeites, Vinhos, Discos, Livros e peças invulgares constroem a base do espaço simples e de um elegante bom gosto de quem faz muito com pouco. Na moda das tabernas chiques, o Can the Can eleva a fasquia a uma mistura do tradicional com o contemporâneo.

A minha experiência ficou-se pelos ‘Rolinhos de curgete com sardinha picante com variedades de alface, azeite, vinagre e flor de sal’. A carta respira uma influência mediterrânica do chef que propõe também ‘Anchovas Ramirez de biqueirão com limão, azeite e pão torrado’, ‘Carpaccio de beterraba com cavala fumada marinado em vinagre balsâmico em cama de puré de batata de alho e ervas aromáticas’, ‘Muxama de atum catraio com gomos de laranja, emulsão de azeite, raspa de casca de laranja e brotos de Amaranto’, ‘Bacalhau assado Comur com espinafres salteados em alho e ovo estrelado de codernis’ entre outras sugestões leves que são abraçadas por tibornas e tábuas de queijos. Para sobremesa pode pedir um pastel de nata ou um doce tradicional português, fruta com iogurte mel e pinhões ou maçã com mel.

Nesta morada sentem-se ‘portugueses vaidosos’ e por isso o espaço para o Fado e desgarradas que completam a atmosfera do café-restuarante. ‘As conservas vestem-se de gourmet como filhas bonitos da indústria Portuguesa, que sempre guarnecidas convidam a vir provar o agridoce de uma desgarrada e a conhecer a subtileza que o tremoço ou a azeitona podem ter’. E se os preços da carta não são nenhuma pechincha, não se acanhe. Está na praça de excelência de Lisboa e finalmente pode tirar proveito das alas como se tudo pudesse, ‘Can the Can, Canned Food goes gormet’.

crónica publicada a 22 de junho de 2012 na Vogue

Can the Can
Praça do Comércio, 82/83 Lisboa
Tel. 914 007 100
Todos os dias 09h às 24h
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