I wander around the city and its escapes, discovering the experiences that are worthwhile in a world full of noise.
As a curator of the best of Portugal and sometimes as a World traveller, with more than twenty years of articles published, in the national and international press, and also as an TV Show. author, this is my digital magazine, where I present my curated collection of exquisite life experiences.

Sancha Trindade

Boulangerie by Stef, A primeira impressão marca sempre


Tinha-a em agenda há várias semanas e parece que a minha intuição não me enganava. Na nova Boulangerie da Rua da Madalena, a entrada convida-me a descobrir rapidamente a porta da saída.
Quando escolhi o nome institucional desta crónica – ‘Saída de Emergência’ – brinquei com a crise que nos atravessa e a editora deste site aprovou a sua divertida transversalidade. Muita da nossa imprensa já escreveu sobre a La Boulangerie By Stef e, sem adiar mais, sentei-me finalmente numa das mesas, enquanto chovia nas ruas da Baixa. Na montra, antes de entrar, um casal iluminava a calçada da rua. Reconheci os traços frescos da cantora Luísa Sobral e o nome do seu album, ‘Not there yet,’ junta-se aos momentos que antecipam sempre a minha entrada nas novas moradas que a cidade oferece.

A minha intuição raramente me engana e neste caso, dou-lhe uma salva de palmas por saber que não prejudiquei os meus leitores ao não lhes ter dado em primeira mão a abertura destas portas.

As imagens desta crónica substituem os detalhes da carta, pela minha (falta de) vontade de conhecer melhor quem estás por trás de uma porta onde tratam mal os clientes. Na sua página do facebook, a La Boulangerie By Stef auto proclama-se como ‘um espaço que nasce da vontade de bem servir aliado à vontade de partilhar uma boa conversa com os amigos, acompanhado de pão francês e um copo de vinho. Um espaço que ativa os cincos sentidos. Quem vem, voltará sempre’. Pela minha experiência infeliz não podia estar mais em desacordo.

O quadro ao fundo da sala destoa de tudo o que poderia ser este espaço e a iluminação apresenta-se branca e em demasia, quase tão agressiva como a sala branca da Poison D’Amour no Príncipe Real. Os pontos altos são a partilha da sala onde se amassam as receitas de pão à distância de um vidro apenas, assim como as gavetas com os jornais e revistas do balcão. Diz o ditado que gostos não se discutem e na tentativa de poder o meu contributo construtivo, gostava de pedir à Boulangerie que passasse a tratar melhor os seus clientes.

A acompanhar o meu café longo pedi um croissant com chocolate, que levou com uma resposta crua de um não. Olho para a mesa do lado, e vejo um cesto de croissants a serem partilhados por uma família que os barrava com Nutella. Não teria sido simpático dar uma solução e já agora de uma forma agradável? O croissant chega e pergunto pelo Nutella.

Respondem-me de maneira arrogante que ‘se quer Nutella, tem de se levantar e ir buscá-la. Levanto-me com paciência e um sorriso e pergunto no balcão pelo famoso boião de chocolate e avelã, ao que me respondem ‘se não está aqui é porque não há … se o quer peça a outra mesa’. Em vez de me desiludir aproveito a deixa e sorrio dizendo que até tem graça o sentido de partilha, mas que é deplorável a maneira como tratam os clientes.

Apresento-me e digo com sinceridade que é muito triste ver um espaço novo na minha cidade, com tamanha arrogância na postura e no tom com que se dirigem aos clientes.

A resposta fica em branco. Nem um pedido de desculpas, quanto mais a preocupação de um cliente mal servido. Diz-me a personalidade que não devemos deixar de dizer as verdades de luvas brancas e para esta Boulangerie me ter de volta, não seria preciso muito, só mesmo alguma graciosidade humana. Ingrediente esse, que tal como eu, não é comprável, nem na mais bonita rua de Paris, nem na mais luminosa rua de Lisboa. O ditado diz e muito bem que ‘a primeira impressão marca sempre’ e sobre isso, lamento, mas já não há nada a fazer.

 

 

La Boulangerie By Stef
Rua da Madelena, 57 Lisboa
Tel. 936 155 742
www.laboulangeriebystef.com
facebook aqui
Ter das 10h às 20h, Qua, Qui e Sex das 9h às 20h

crónica publicada a 3 de Maio de 2012 na Vogue