I wander around the city and its escapes, discovering the experiences that are worthwhile in a world full of noise.
As a curator of the best of Portugal and sometimes as a World traveller, with more than twenty years of articles published, in the national and international press, and also as an TV Show. author, this is my digital magazine, where I present my curated collection of exquisite life experiences.

Sancha Trindade

Babel Fabrico Infinito, ‘Há uma coisa muito bonita que é a sedução’


O meu coração encheu-se quando soube da notícia. De todos os sonhos que ainda tenho para a minha cidade, juntar dois projectos tão sublimes, como a editora Babel e o espaço Fabrico Infinito, no Príncipe Real, é como um abraço demorado, daqueles que ficará para sempre nos aromas da memória.

Aos livros, estendo muito do tempo que passo na minha companhia e, nas suas páginas cheias de sabedoria extensível, abraço na minha essência mais centrada o que mais os caracteriza: eles são os meus amigos silenciosos.

Filha de um alfarrabista do Chiado, cedo aprendi que o maior legado de todos será sempre tudo o que transportamos connosco. E não me refiro a nada que seja físico, mas a todas as histórias e experiências vividas no imensurável mundo que habita o interior etéreo do nosso corpo.

E nesses pensamentos, retenho-me no privilégio de Portugal ter uma editora como a Babel. Com um conselho consultivo topo de gama, é por ela que espero duas semanas até encontrar umas Memórias de Adriano, da Marguerite Yourcenar, a última edição que trouxe para a biblioteca do andar Atlântico. Uma edição que, como tantas da sua identidade, vale tanto a pena numa encadernação que resistirá a muitos anos de vida. Assim se constrói uma casa editorial, com histórias escolhidas a dedo que elevam a qualidade de tanta página impressa em Portugal.

A beleza única do Fabrico Infinito partilha, no regresso à cidade, livros editados dentro de portas e a palavra ‘arte’ habita as prateleiras invulgares. O design, não fosse esta ‘fábrica’ uma morada onde se homenageia a maior extensão da criatividade, encontra também aqui espaço para respirar fundo. E se no título desta crónica me lembro da irreverência de uma das letras mais raras de um Sam the Kid, num dos bairros de eleição da cidade, as notas das especiarias criativas de Marcela Bruken revelam-se um casamento de pele e de alma entre a Alemanha e o Brasil. Fundem-se, assim, duas existências num espaço que se oferece aos estímulos das mentes mais curiosas e destemidas desta cidade.

Com promessa de brunches numa fábrica-livraria-cafetaria, que inaugura hoje no coração de um Príncipe sempre Real, o maior privilégio está na extensão deste espaço magnânimo a um jardim escondido por trás da faixa de edifícios que cobrem a Rua Dom Pedro V. Imagine-se a abraçar as páginas soltas num dos jardins que Lisboa, sempre misteriosa, esconde como uma miúda guarda um tesouro… agora imagine tudo isto com acesso a uma biblioteca escolhida a dedo, num pequeno palácio de palavras onde a guardiã é uma diva ainda viva, uma mulher que respira sensualidade através da elegância natural (o mais difícil), e que nos recebe sempre com uma mistura de mel e canela a escorrer das mãos.

A importância dos que constroem as cidades, e a entrega das pessoas que neste século nos chama ao mais importante de tudo: a partilha humana. Um lugar mágico, onde conquistar um amigo silencioso imprescindível à nossa sabedoria, jamais será uma aquisição fria onde nos reduzimos a um som de código de barras numa catedral de papel no Chiado.

E numa cidade que me prende sempre que se eleva ao seu máximo expoente é aqui, num dos seus jardins mais desejáveis, agora renascido de uma noite de amor de uma Babel com o Infinito, que ouso tocar de novo a altura de Fernando Pessoa. Tudo isto sentando-me apenas na mais improvável cadeira de jardim da minha cidade.

crónica publicada a 15 de Setembro de 2011 na Vogue

Babel Fabrico Infinito
Rua D. Pedro V, 74 Lisboa
Ter a Sáb 11h – 22h
facebook aqui e aqui
www.fabricoinfinito.wordpress.com