Lisboa espelhava-me o cinzento do céu, mas no dia em que o arquitecto Tiago Rebelo de Andrade me apanhou no Chiado, para finalmente conhecer a tão famosa casa do Patrocínio, o destino estava bem marcado.
É nos momentos mais frágeis que me permito a maiores adrenalinas, por isso a boleia de cabelos ao vento e maresia Atlântica na cara, a bordo da sua vespa vintage azul de verão, devolveram-me por momentos a lufada de ar fresco do mês de Dezembro. É sempre um mês muito delicado, nos balanços e este ano ainda mais especial. É impressionante como a nossa vida pode mudar tão depressa e como nos entrega de mãos abertas a maiores lições de humanidade.
O Arquitecto Tiago Rebelo de Andrade, tal como o seu Pai, Luís Rebelo de Andrade – que já mereceu as minhas palavras neste artigo – são seres humanos que falam também através dos silêncios. E esta maravilhosa Lisboa que tanto defendemos, acolhe hoje uma das melhores obras do ano, que na sua singularidade rasga o potencial da minha cidade, ao alto aos olhos do mundo. As melhores publicações internacionais escreveram sobre esta casa, e confesso, que fui adiando as minhas linhas nesta páginas, por muitas vezes não saber como agradecer, a quem tão alto sonha a minha Lisboa.
Luís Rebelo de Andrade, Tiago Rebelo de Andrade e Manuel Cachão Tojal tiveram o condão de criar magia, numa rua sem saída. Excelente metáfora para o que hoje vivemos em Portugal, é na criatividade, associativismo e inovação que vejo o nosso futuro enquanto povo, enquanto país.
De um edifício que poderia ser mais um em Lisboa, a tripla liga um foco de luz internacional para uma rua escondida de Campo de Ourique. A implementação do jardim vertical que cobre a fachada do edifico com 4.500 plantas de 25 variedades, ocupando 100 metros quadrados, e exigindo um mínimo de manutenção, espantou ainda mais a minha reação de que observa a natureza com os olhos da alma. Quanto esforço e tinta serão precissa para conseguirmos concretizar todas as loucuras que idealizamos? E vale ou não vale a pena correr todos os riscos do mundo, por esta cidade que nos move?
Tiago abre a porta e com educação de um verdadeiro príncipe, vai contando as pequenas histórias, que fazem desta uma grande casa. Não preciso de muito para conseguir absorver o seu jeito de menino senhor, um jeito leve e sereno, e o amor que lhe escorre das mão a tudo o que se entrega. No patio pulsa o coração da casa, permitindo que a luz entre nas suas veias que chegam até à entrada principal. Os aromas chegam-me pelas janelas. Não estamos na Primavera, mas a minha sensorialidade consegue alcançar, na imaginação, as diferentes fragrâncias que se espalham ao longo dos quatro andares. Na piscina o açafrão, no quarto a lavanda, na sala o alecrim. E é no elogio à sustentabilidade, que me retenho no enorme agradecimento de todos os que constroem esta cidade.
Tiago Rebelo de Andrade é ainda jovem para tanta luz, mas sempre acreditei que a excelência do mundo onde quero viver, nada tem a ver com carimbos académicos. Não que o Tiago não os tenha (antes pelo contrário) mas é na sua genuinidade, tão simples e silenciosamente elegante, que confirmo o carimbo de excelência. Uma excelência que não se cruza com nenhum limite e que no seu testemunho, podemos comprovar quem sabiamente, ousa implementar tudo o que imagina, para os seus grandes sonhos. Para os grandes sonhos de Portugal.
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