I wander around the city and its escapes, discovering the experiences that are worthwhile in a world full of noise.
As a curator of the best of Portugal and sometimes as a World traveller, with more than twenty years of articles published, in the national and international press, and also as an TV Show. author, this is my digital magazine, where I present my curated collection of exquisite life experiences.

Sancha Trindade

A importância dos ‘petiscos’ no valor da marca Portugal, da marca Lisboa

Descia o fim de tarde quando cheguei ao LX Factory para apresentação do novo equipamento da Seleção Nacional que está muito bem conseguida e que terá espaço amanhã nesta morada. Com tempo ainda para um copo de vinho na livraria Ler Devagar, o que os meus olhos viram conseguiu tirar-me do sério. Vivo a defender tudo o que é luminoso no meu país e não compreendo como é que habitantes do mesmo, não tenham sensibilidade e erudição para defender o que é nosso. Como todos sabem, não apenas pelos meios para onde escrevo, mas por toda a energia que invisto a defender a marca de Lisboa, a marca de Portugal, em breve com nova plataforma.

Para quem não sabe, a Livraria Ler Devagar está considerada um das mais bonitas do mundo, e pela sua irreverência é uma das moradas a não dispensar na marca Lisboa. Colocar numa das nossas mais bonitas livrarias, um bar de vinho é uma excelente ideia. Mas num lugar aberto a uma morada de livros, onde habita o reino da língua, que em Portugal é a portuguesa, um bar com o nome ‘Wine Elements’ – e como defensora da língua como um dos nossos maiores valores enquanto povo (nessa defesa fundei este projeto) – é mau. Colocar Vinhos e ‘Tapas’ é na minha opinião, pior que mau, é grave. Os meus leitores sabem que transporto sangue catalão do lado materno, mas é nos detalhes que está a marca de um país, a marca de um povo. A falta de cultura ou de respeito pela nossa língua e valores demonstra um enorme mau gosto, falta de visão, de cultura e de autoestima ou como alguém escreveu num comentário no facebook chega a ser até provinciano.

Um dos comentadores do meu post do facebook perguntou bem quando escreveu:’ depende do que eles servirem: se forem moelas ou caracóis são petiscos, se forem ovos estrelados com batatas fritas e lascas de presunto ou pão com tomate, são tapas, assim como, se for peixe cru embrulhado em algas e arroz, é sushi.’ Li este comentário já longe da livraria, mas voltei atrás para confirmar que a carta oferece ‘ requeijão assado, salada de peixe fresco, salame com queijo da ilha’. Existe alguma referência de fusão, mas apenas com queijos franceses como o chèvre e o roqueford.

Mas o pior estava para vir. Depois de consultar o link ‘Valores’ do site da Wine Elements o mesmo diz que a”a Wine Element pretende ser o seu canal de consumo de referência, defendendo e promovendo o que é de Portugal’.

Um dos maiores problemas de Portugal são de fato alguns portugueses que não têm visão de construir com mais simplicidade, com mais autenticidade e com ligação a tudo o que é nosso. É lamentável, triste e ofensivo ao meu trabalho. Espero da próxima vez que pedir um copo de vinho ao Afonso (colaborador muito simpático que diz que a culpa das tapas não ser dele) pedir a carta e ler petiscos, porque em Portugal é isso que eles são: ‘petiscos’ sem direito a ‘croquetas, patatas bravas ou pinchos’.