Há uma hora atrás, saia eu de um glühwein de fim de dia, no Kaffehaus, quando nas traseiras do Belcanto encontro José Avillez ao telefone. Depois de desligar, e de me cumprimentar disse que era o Duarte Calvão, que tem sempre o privilégio de lhe dar boas notícias: com a sua serenidade de veludo, partilhou-me que acabava de receber uma boa notícia. O Belcanto tinha conquistado a estrela Michelin.
Há quase um ano escrevi uma crónica que partilhava a luz do Zé como uma inspiração para Portugal. Volto a repetir-me quando escrevo que o que mais admiro neste grande resiliente da nossa praça gastronômica é que o Zé Avillez é daqueles seres humanos que nunca abandonam a capacidade de se reinventarem.
Escrevia eu a 5 de Janeiro: “Haverá dúvidas de que é mesmo isto que o país mais precisa agora? Se há alguém que é inteiro em tudo o que toca, esse alguém é José Avillez. Deixando para trás um projeto que talvez não tenha sabido gerir o ouro da melhor maneira, o chef que conquistou com a sua equipa uma estrela Michelin volta agora a abraçar uma das mais carismáticas salas de jantar da cidade. E é com estes testemunhos que me inundo de muito: gosto de assistir à boa construção e reconstrução da minha cidade, sendo que este é mais um dos bons exemplos a que o chef José Avillez já nos habituou.”
“Sempre atrás da palavra solução, e inconformista e perfeccionista por natureza, José Avillez tem ainda a qualidade de saber gerir a sua marca pessoal como ninguém. E porque me junto ao grupo dos que apenas sabem trabalhar com, e por, amor, é notável a entrega que o chef tem pela sua cidade e é um privilégio ir acompanhando tudo o que vai fazendo pela marca Portugal.”
E foi neste canto que José Avillez partilhou nos últimos meses muitas das suas emoções, inquietações, representações e ilusões culinárias e que concebeu muitos pratos com histórias que sempre tiveram como principal objectivo: emocionar.
Em Janeiro escrevi ainda que “na semana em que esperamos os reis magos e na estação onde as folhas caem, José Avillez oferece mais um projeto dourado à cidade. E se tenho a certeza absoluta que tristezas não pagam dívidas, a sua capacidade de reinvenção será sempre a sua mais importante estrela. A mais luminosa de todas.”
Com o seu testemunho ninguém duvida de que” ser inteiro” compensa e muito, por isso obrigada Zé por esse tua entrega, sempre tão humilde que longe dos holofotes do egocentrismo, faz de ti esse ser humano tão luminoso.
Hoje, a noite é tua e enquanto escrevo a todos os portugueses estas palavras de sorriso rasgado, mergulho nas tuas “notas soltas para refletir“. Em meu nome e de Portugal, muito obrigada querido Zé, obrigada por tudo o que tens feito pela nossa marca Portugal.
Belcanto
Largo de São Carlos, 10 Lisboa
Tel. 21 342 06 07
Ter a Sáb, Almoço 12h30 – 15h, Jantar 19h30 – 23h
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