Tantos dias longe dos meus livros e mal marco o reencontro arranjo-lhes novo destino. Mudar duas vezes de casa em tão pouco tempo é obra, mas visionando a fragilidade de um pai acostumado ao Estado Novo, olho-me feliz com a palavra saúde. A corda estica mas nunca parte e a frase de Virgílio Ferreira surge-me sempre no fim das paragens: “trabalho. sempre”.
Longe do descanso desejado, a vida é feita de desafios constantes e provas da força que nos movem. Como diria Tolentino Mendonça, “não sei que tempo duram as frésias, a rendição de um corpo é sempre tão inesperada.” E com a certeza destas linhas serem mais profundas do que o habitual, a verdade é que hoje concebo a vida a subir montanhas. Pequenas ou grandes, elas constituem uma torre de vidro que abana mas não parte.
Perante pensamentos mais introspectivos, hoje rendi-me à vontade da partilha desta mensagem. Com alguns amigos rendidos à alegria de outras cidades europeias, confirmo que Lisboa é menos brilhante quando os sorrisos não se rasgam pelas ruas da capital. E num conceito de cidade feita de detalhes, as pessoas são sem dúvida um pormenor essencial ao seu enaltecimento.
Pela casa a dentro, entram ainda palavras de outros inconformistas caminhantes e com eles relembro que na antiga Grécia – essa terra que tanto me ensinou a viver – “não se fazia a necrologia das pessoas falecidas” .“Sobre cada uma, apenas se perguntava se viveu com paixão”. É que quando se entende o verdadeiro objectivo da vida, a palavra gratidão não nos dá outra hipótese e numa cidade conhecida pelas sete colinas, as subidas são sem dúvida, motivantes.
coluna de opinião publicada a 18 de Setembro de 2008 no jornal Meia Hora
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