Porque é a última vez que escrevo antes da passagem de ano partilho o entusiasmo vivido no passado Outubro, com o restauro do relógio do Arco da Rua Augusta. A orientar-nos temporalmente desde 1941, o coração deste ex-líbris público em pleno Terreiro do Paço voltou a bater o coração com as obras de recuperação efectuadas por Luís Manuel Cousinha, neto do fabricante do mecanismo e precursor do avô e do pai.
O arranjo custou cerca de 12 mil euros, resultado de uma parceria entre o Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar), a empresa Torres Distribuição e a relojoeira Jaeger-leCoultre.
Tanta sorte não teve o relógio da hora legal do Cais do Sodré instalado naquele local, para informar os barcos que deixavam o Tejo e precioso para o acerto dos cronómetros marítimos, instrumentos essenciais à navegação.
Depois da descaracterização a que a Praça Duque da Terceira foi sujeita, voltando as costas da cidade ao rio, com a construção dos edifícios para albergar a Agência Europeia de Segurança Marítima e do Observatório da Toxicodependência, a Administração do Porto de Lisboa colocou um novo relógio que no seu entendimento é de ‘tecnologia digital e design bem mais moderno’.
O original foi colocado em exposição na Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos, em Alcântara, e com esta troca, o marco público da praça passou a ser mais um, pois o mesmo já não está ligado aos cinco relógios atómicos do Observatório Astronómico de Lisboa (OAL).
Para uma cidade credibilizar a sua história, não faria mais sentido a reposição do mecanismo, mas com a verdadeira prata da casa?
coluna de opinião publicada a 17 de Dezembro no Meia Hora