I wander around the city and its escapes, discovering the experiences that are worthwhile in a world full of noise.
As a curator of the best of Portugal and sometimes as a World traveller, with more than twenty years of articles published, in the national and international press, and also as an TV Show. author, this is my digital magazine, where I present my curated collection of exquisite life experiences.

Sancha Trindade

2013, guardo-te ‘como uma criança guarda um tesouro’

2013 © Bernardo Trindade

No ultimo dia do ano retenho-me na a noite de renascimento, e se a imagem é raptada por uma extensão de pele de quem cresceu ao meu lado, é com ela que agradeço o ano de 2013.

Longe de imaginar que seria o ano mais difícil que alguma vez vivi, volto a confirmar de que nada somos sem a ternura dos que caminham ao nosso lado. Nada somos, sem aqueles que não nos questionam e apenas estão ali, no regaço da nossa vida com um grande abraço largo a amparar as grandes quedas do mundo. E foi por isso que no discurso em família da noite de Natal agradeci não apenas este ano ‘horribilis’, como o descreve um grande amigo daqueles do peito, mas acima de tudo a sobrevivência de tudo isto.

Longe de uma vida tecida a fitas de contos de fadas e na presença de uma biblioteca feita de amigos silenciosos é quando quase tudo me é retirado, que observo quem fica no jardim frondoso onde chegam apenas os que fazem sentido. E assim como uma arvore já quase sem vida, a quem é permitido podar os ramos mortos, ergue-se a grande oportunidade do reencontro. O encontro mais importante de todos, com tudo o que de melhor somos.

À vida sempre foi permitido achocalhar o tronco, abanar a Primavera para deixar cair os frutos mortais e impedir que cresça o nosso lado mais sombrio. E sem medo, assim como quem poda um jardim de Inverno nomeio a clemencia da entrega. Sem questionar muito, deixo que me cortem todos os ramos e rogo ao Céu que não seja permitido atravessar um deserto em que não vemos nada mais senão o vazio. E é esse mesmo deserto, que me permito tocar a imensidão do mais puro que podemos trazer ao mundo.

Sim, eu sei que o nosso caminho é um grande jogo de apostas, e se por vezes do tabuleiro são retirados à bruta todos os triângulos daquela peça circular, com que avançamos até à casa da partida, é nessa ausência, hoje crucial, que nestas ultimas horas do ano me inundo de gratidão.

E assim, como quem caminha devagar com uma lamparina de mãos acesas, velo o caminho e abro a grande porta de 2014. Um ano que traga o que trouxer, nos aproxime sempre da humildade e do mais sublime de tudo o que somos. Do mais sublime de tudo o que podemos ser, enquanto vamos atravessando ‘este sítio tão frágil que é o mundo’.

O meu ano inteiro aqui.