I wander around the city and its escapes, discovering the experiences that are worthwhile in a world full of noise.
As a curator of the best of Portugal and sometimes as a World traveller, with more than twenty years of articles published, in the national and international press, and also as an TV Show. author, this is my digital magazine, where I present my curated collection of exquisite life experiences.

Sancha Trindade

15 de Setembro 2012, ‘eu tenho um sonho’

O fim de semana foi intenso e este ano sem planeamento não me safo. Falo de tempo, mas também de sonhos. E porque são eles que comandam a vida, tenho o plano de visitar a Argentina pela altura do Natal. Vou ter de fazer ainda mais concessões, mas a vida é feita de gestão de prioridades. Com o país em pantanas financeiras e emocionais, amanhã acordarei cheia de ganas para conquistar mais um dia. E delinearei da melhor forma o meu excel para ir mantendo o mais importante como prioridade. Os sorrisos aos desconhecidos na rua, a importância do tempo dedicado àqueles que amo (onde também se incluem os amigos), a missão do que me move, a literatura, as viagens.

A partir de amanhã largarei o meu carro até ter coragem o libertar de vez. A minha ligação ao ventre do mundo e o respeito à Natureza  pedem-me isso. E confesso, estou contente, porque andar na rua inspira-me. Inspira-me bem mais do que navegar fechada numa bolha de metal e vidro e entregue à solidão do carro, isolada dos sentidos da cidade. Os aromas, os sons, as conversas espontâneas e o mais importante de tudo, a surpresa do imprevisto. Os rostos das pessoas, a liberdade, a brisa e a luz na face enquanto caminho nas calçadas que me permitem recolher o sumo dos dias.

Não me esqueço das imagens da Argentina, há dez anos, hoje mais erguida podem servir de exemplo de que nem tudo o que é mau o é para sempre. Cheguei a este mundo com a palavra crise e não duvido que partirei com a mesma palavra colada aos ombros. Valerá então a pena adiar a felicidade recolhida em pequenas coisas da vida? Sei que não estou na fatia dos mais carenciados, mas porque cada um tem a sua realidade há que vivê-la em paralelismo solidário. Por isso quero dar forma ao Bairro do Amor, que terá outra cara, outro bairro e outra missão bem mais ambiciosa do que a intenção original.

O mundo anda pobre sim, mas é tempo para refletir o que é a verdadeira pobreza. Sobre o luxo, já há algum tempo que associo a palavra a roubar sorrisos ao desconhecido. E enquanto guardo os gritos da cidade, neste dia de movimento por um Portugal melhor, deixo as palavras na voz da argentina Mercedes Sosa. Assim como quem tem um sonho.

Se não acreditasse na loucura
Da garganta do rouxinol,
Se não acreditasse que no monte
Se esconde o trigo e o pavor…

Se não acreditasse na balança,
Na razão de equilíbrio,
Se não acreditasse no delírio,
Se não acreditasse na esperança…

Se não acreditasse no que agencio,
Se não acreditasse em meu caminho,
Se não acreditasse em meu som,
Se não acreditasse em meu silêncio …